Tuesday, November 30, 2010

14 luas

Autoportrait em out/2010 em Ablon-sur-Seine, région parisienne, France

Acrílico sobre tela.
por Georgia Cardoso

Wednesday, November 3, 2010

Eu e Árvore

Marrakech março 2009.



Toda a beleza de ser humano começa a se desmascarar diante de mim. Aceitar ser flor, ser mulher. Se apaixonar com o corpo, sem cabeça nenhuma. Só o chamado do amor, da gratidão. E a paixão que nasce assim mesmo pura, nua, brutal, sem regra nenhuma. Sem limite nem razão. As gotas de consciência que iluminaram e inspiraram as intenções foram breves e raras, mas bases estruturais potencializadas pelo fogo e pelo sexo. A intenção flamejante: eu te amo, quero ser um só com você.

Me entreguei completa a uma pureza. A primeira, pois espero. Com toda a potência do sexo, do fogo, da vitalidade de ser humano. As flamas que se entrelaçaram às folhas secas do outono e o caule secular, cheio de histórias e abraços pra recordar. No orgasmo vooei alto, me segurei nos teus galhos, não podia mais viver sem você. Eu te contei que não era pra sempre, mesmo que felizes fossem meus singulares dias do teu lado, meu tempo se esgota exatamente como tuas folhas que não param de cair. Pensa que eu fui mais uma, que cai e que fertiliza tua terra. Em mim tu te faz presente, sacode minhas folhas, me bota no teu eixo. Eu te amo.

É bom ser assim, sem limites. Toda livre. Apaixonada. Espero o dia vou poder namorar com a chuva, com o mar, com as pedras, com o vento e com o Sol. Ah, o Sol. Quero namorar a ti ó Sol radiante. Me entregar por completa e ser uma só contigo nessa canção. Me faz decolar até ti, me faz renascer no teu fogo. Me deixa inspirar teus suspiros, sentir teus sentidos, repousar no teu coração. Te fazer de morada, ser mulher-sol, ser toda sol, tua companheira, tua namorada.

Ver as nuvens passar, o inverno chegar, e ser todos os dias sol. Feito Tu, inesgotável. Pra sempre, tua esposa, tua mulher e ir embora contigo, ser contigo. Ser sol em flor.  

Georgia Cardoso
em 4.10.10

Monday, November 1, 2010

Flor

Paris, primavera 2010


E foi hoje pela primeira vez nessa historia longa e rápida.
Vi a mim. Vi a carapaça incansável  e impenetrável. O movimento sem interrupção, a atividade perene. O descanso do sábado nunca havia passado por aqui.
E pois só de olhar a música se esvair das gargantas feito larvas de vulcão borbulhando toda a vitalidade da sensualidade, lembrei de olhar a mulher que pousada sobre o sofá esperava uma vida para viver.  
 Vi essa flor, essa mulher. Era feito rede de dormir. A explosão toda em si. Ela era toda a sensação. O mais forte perfume, a mais bela canção, o corpo espreguiçado no sofá. Me pareceu  a pureza incansável e a beleza incessante  mirada sobre ela mesma entre flores e cabelos.
A música e o fogo que pulsava dos corpos e gargantas era tudo que eu sentia. Era só o que existia. E nada disso precisava me possuir. Aquilo era e só. Era puro, pois. Era sincero, era fiel, era só o que se era: o sexo, o fogo. Me pareceu uma deusa que os ventos não pára de soprar os cabelos e que o perfume inebriante apresenta o êxtase para si mesmo. Era comum.
Feito espelho, o fogo dos seus chamou o fogo do meu. E me desmanchei e descansei sob a flor. Descansei pela primeira vez. Aceitei e pousei sobre a flor. Eu era ela, ela era eu.
Então eu fui flor. Uma flor. A delicadeza do vento soprava o fogo por todo o corpo feito barro quente no sol do meio dia. O êxtase habitava cada pedaço do barro. Uma flor de barro que se desabrocha nela mesma e se encanta com o desenrolar de cada pétala. Pareceu-me uma sensualidade e pareceu-me uma beleza. Pareceu que não havia fim. Um abandono que me chamava para deitar, ficar quietinha, simplesmente por ali ficar. Era tudo tão simples, tão calmo, tão intenso. O marasmo da praia deserta no pôr-do-sol. Um deixa ser, um deixa estar. A mulher espreguiçada no sofá.
Mas deu preguiça de descansar.
Descansar é uma arte.


Georgia Cardoso
em 1.11.10

Wednesday, October 13, 2010

moqueca de arraia

Cassis, Verão 2009

O dendê, Deus já me mandou da fábrica. 
Assim me vou catando os caroços de pimenta e limão pro gosto não azedar. 
Porque a moqueca da morena é leveza, é feito comer o mar. 
Limpa as narinas, faz sentir melhor.
Dá sonim manhoso, dá axé danado. 

Vem toda temperada de cantiga do lado de lá. 
cheia de intenções, 
cheia de Iemanjá..........










Thursday, September 9, 2010

brotando

Praia da Pipa, Brazil. Agosto 2010


sou uma sementinha

daquelas que ja nao sao mais sementes
daquelas germinadas, desvirginadas
com bracinhos saindo
raizes bêbe nascendo


ansiosa sem saber o que vai dar
esculpindo as possibilidades
a beleza brotando do casco seco
todas as cores à escolher
todos os formatos
todos os cheiros
de nada me serviu estudar as possibilidades


se é o artista de Ser Deus
que inspirado pelo que se é
escolhe o tocar de cada sentido
daqueles que fazem a vida mais bonita

o gosto de construir o que se é belo
de manipular o que ja se é perfeito
desafiando a si mesmo e a criação
tudo pelo bom de fazer de si na terra
colorindo e perfumando os rastros dos caminhos


por Georgia Cardoso
em 10/09/10

Friday, September 3, 2010

viver viver viver


paris verão 2009
eu quero me jogar no instante sem finito

quero viver todas as possibilidades
e todas as impossibilidades

quero me jogar de braços abertos
bem do  alto do penhasco
bem no fundo do mar

quero dançar todas as melodias
cheiras todos os cheirinhos
e dengar todos os denguinhos

quero abraçar a vida de com força
espremar toda a vitalidade de dentro de mim
saciar o que num se pode saciar
estalar o divino que irradia forte
 pra nunca nem deixar querer parar

bater  meu pé no chão
meu pé na roda
Eu dançando e rodando
feito saiote colorido

arar na areia,
fazendo casinha
limpando na lama

eu quero abraçar toda a terra
quero viver todo meu vento
e nadar todo meu mar
eu quero irradiar inteira
eu quero Ser toda

toda e pra sempre,
aqui agora:
na Terra
na grama
na montanha
na pele
e na lama

Georgia Cardoso
03/09/2010

Wednesday, August 25, 2010

Aah!

Bernini em Roma inverno 2009

Odeio teatro e personagens.


rumbora vamos Ser! Eu e Tu, tudo junto e misturado.

Revolução Solar

Roma inverno 2009

E hoje eu paro e penso sobre os anos que passaram-se sobre as asas do firmamento, longe dos pés e longe do chão. Meu vento que venta forte como menina moça que adora o alinhar dos cabelos e o sopro pulsante da vida que pode te levar aonde quiser. A idéia, o pensamento, a nuvem de fumaça fofinha que forma cada hora novos desenhos e dentro de cada desenho um novo vôo.

Os anos que pus os pés sobre a Terra foram feito instantes de ar rarefeito, feito o instante do quicar de uma bolinha leve feita de penas de passarinhos coloridos. Daquelas que o vento ja ajuda a subir denovo.

Foram tantos anos em que não haviam raízes, só raizes podres. O ano em que elas quiseram surgir e firmar um autêntico instante perpetuado, foi tanta pressão e desprazer que arranquei tudo fora e construi asas mais potentes. Voei tão longe que atravessei um oceano inteiro, mesmo que o dissessem Tenebroso. Mesmo que a viagem fosse em escala contrária. Do novo pro velho.

Mas pra quem não tinha encontrado o velho, como eu ia começar do novo?

Não foi tão diferente, tudo estava no céu. Mas aquele do Eterno, que até então andava ocultado por nuvens grosseiras de poluição e medo. Soprei com tanta força que lá encontrei um céu estrelado, com anjos e luzes coloridas. Encontrei um passado e o presente-Real. Encontrei familias, amigos, mestres e filosofias. O céu ficou fresquinho e úmido. Grande azulão, ornado por arco-íris e passarinhos coloridos. Com nuvens refrescantes de amor intenso que gotejaram algumas vezes sobre meu jardim.

O vôo ficou faceiro, ligeiro. Ilimitado. Com um belo eixo vertical de vida e compreensão. Feito navem espacial que desbravava Universos e as dimensões. Mas eu descobri lá no céu que eu era uma semente. E que o vento me levava forte por todos os continentes até encontrar as boas condições de germinação.

Então eu fui desbravar as águas do regador. Pois então foi que com a esperança da semente, eu, passarinho, aprendi a nadar no meu mar. Mar platinado de ondas coloridas com espumas fofinhas que refletem todas as cores sobre as suas bolhinhas. Uma bomba de sentir, de emoção com toda a força. O feminino tão feminino. Meu amor do tamanho do mar. Com todos peixinhos e golfinhos do Grande Espírito dentro. Pulsando forte e firme a dança das ondas, mergulhando, feito baleia rosa dentro do oceano, sábia e graciosa nadando no útero sagrado da criação. Eu era peixe também!

Já tenho pois vento, água e semente. Brota aqui então que eu devo ser a terra.

Eu cigana dos ventos, no mar aprendi a nadar e virei sereia. E na terra? No céu me tinham dito que da semente então nasce flor. É bom ser flor?

Cade a flor, cadê a terra? Quero te amar então. O céu estrelado e mar azul eu não conhecia, quando achei me apaixonei. Quero achar, quero brotar, quero ancorar. Lá na Terra eu sei que deve ter areia molhada, flor cheirosa, mel de garrafa, notas de violão e pétalas de vulcão.

Me deixa então cair cheirosa e graciosa.

Georgia Cardoso
em 25.08.2010

Tuesday, August 17, 2010

Recomeçando dentro do presente de ontem

Lyon primavera 2009


Mulher de agua que sou, cresci na praia entre as jangadas, comendo peixe sob a luz da lua cheia, subindo pé de goiabeira, dormindo na rede, fazendo sereia de areia, rezendo ave maria, meu pai é Joao Batista, minha mae é Damiana... Eu sou Geo, filha da terra, das colheitas e da fecundacao, neta de indio, de pescador, de portugues, de lavadeira... 


Georgia Cardoso
04/2010

Fase

Fortaleza/Brazil 2006

Caí no olho do furacão. No valor e na negação que sempre superestimei.
Agora faço parte da minha profética hipocrisia e colhi o que plantei. Fui transcendente, esqueci que a água molha os pés de verdade. Flutuei por alguns crepúsculos, até que senti o frio que alfineta os pés calejados que acreditavam conhecer o caminho e as direções.  
E fica clara a incapacidade e a superficialidade do poder do meu petit momento e das palavras.
Os não-valores atraem, enganam, fingem completar. Pedem-me para desistir; segurar a linha condutora da frivolidade e do hedonismo. E nesse momento de descrer e perder me sinto tentada. Me sinto enganada! Os sonhos e os planos foram tão bem traçados, foram tão almejados; atingidos e potencializados.
Mais uma vez na história a inversão de valores. Já não sei em que mão segurar. Se sigo firme, com coragem e enfrento; quebro a cara (ou nao?). Se me sustento nas certas convicções eufêmicas e corretas que um jovem de 20 anos pode se beneficiar.
Disseram-me para ter calma: esperar.

Georgia Cardoso
em 31.10.2006


***Hoje, 4 anos depois, ao reler a última frase foi como comer doce esperando ser salgado. Um bela surpresa do passado e futuro que na verdade nao existem. Afinal tudo é eterno e Um. Um presente de Mim para mim.

ponto final

teatro josé de alencar. fortaleza/Brazil 2006
 
Não me bastam frases e reticencias, eu quero pontos, quero finais, quero afirmações. Eu quero a certeza. Certeza de querer, de ser, de fazer!

É tudo que eu preciso, objetivo.  

Deixa sim a certeza, já bastou da insegura virgulas, compridaaaaaaa.
 

Tudo reluta, é medo! Não o tem, te assume, te consome. Somos fortes, donos, Ser. Encerra, completa. Sê o que se é.  

Se preciso, exclamações, gritos desesperados, ATENCAO. 


Georgia Cardoso
em 01.08.2006

mão concreta

eu por Eu mesma, Musei Vaticani 2009



Arte!

É musa de inspiração, fonte de suor e lágrima do poeta-menino, na delicia da bruma suave, na noite da terra, na noite do sol. Com linha, com sina, é mina. Da curva, da rua, calma, toda nua.

100 nexo, protesto, desmodelo. Concretizo o ser concreto da mulher , do poeta de concreto do concreto.

100 pretextos, reconfiguro, desconjuro e modulo: frase, teto, forro. Estrutura completa convexa: despreenchimento..  

Abstração do concreto, do piso, da tela, do verbo, da saia, do teto.

Mão concreta.


Georgia Cardoso
em 18.07.2006

ilusão(pl.)

Lyon inverno 2009

Se eu pudesse decifrar o sentimento, a incognita qualitativa de meu cotidiano, seria fácil. Fácil conhecer, compreender, responder. Mas as dimensões a mim oferecidas se perdem no vácuo diante da grandiosidade do sentir.

Folhas, lembranças, mudanças, andanças e você. Não adiantaria tentar trraduzir. É o que se sente e só. Com toda a força e a delicadeza que a fina navalha penetra no íntimo robusto e pedregoso. É fina dor.

 Perder, ganhar, virou jogo. De poder, querer, ter. Mas quem tem? Eu não tenho nada. Ninguém tem nada. Não sou dona de mim. Quem dirá de qualquer coisa... Tudo virará pó, mas o sentir é efêmero: eu quero AGORA! Posso não ter, mas o sentir me possuiu e tentou tirar meu livre-arbitrio. Não tira, mas mascara.

Vida material.


Georgia Cardoso
em 27.06.2006

A semente

  
londres, primavera 2009

A semente é indefesa, atômica - parece utópíca - mas brota; floresce. Tal a energia expansiva, trasitável. Se planta, se colhe. Se deseja, se recebe. 
 
 As energias do Universo movem-se uníssonas. É fisica: ação - reação. É o que nos alimenta, nos enfraquece, nos energiza. Somos matéria, matéria de energia. Energia indestrutível, mas renovável. Depende da semente. Você escolhe o que planta, afinal... Você é forte. Você é todo poderoso de si. É forte para destruir, forte para construir, forte para odiar e, acredite, mais forte ainda para amar. 

 Mas é fraco! Fraco porque esquece que é forte. E se deixa... Se consome... Se engole: de inveja, de rancor, de orgulho, de egoísmo, de pessimismo, de prisão. Cria amarras e esquece o poder da semente. É, ela é pequena, minuscula: indefesa e incrivelmente potente. 

Sinta a brisa suave. É um sinal, é um canal. Deixa ela levar tua fraqueza para os cegos. Abra os olhos do coração. Você é forte, você é capaz: AME! 

Georgia Cardoso
em 07.06.2006

A parede

Fortaleza/Brazil 2006

Meu medo moveu montanhas e criou um novo sistema adaptável. Deixei de viver, de amar, de me arriscar. O novo, o estranho, o medonho: todas quimeras do dia-a-dia que tento gladiar. Mas faltam forças. Sou impotente diante de tantas barreiras inventadas e criadas não pelo Bush nem pelo Papa; é simplesmente (ou não) Georgia. 

A mente criativa, expansiva e indelével. Que cegou; emparedou. Estou presa(!). 

A batalha navalha. E navalha o narciso masoquista. Contra meu poder, minha criação, meu instrumento de trabalho. E será que vale a pena a auto-mutilação? É depredar a mente ativa e expansiva adaptada para extrapolar; ilimitar. Decepar a fluidez do pensamento, decapitar a expansão em movimento.
            
Ela tomou vida própria. Criou, rebuscou, recriou. E trouxe o medo, a nóia, paranóia: a parede.

Georgia Cardoso
em 30.05.2006

escolhidos.

roma inverno 2009
 
Meus amigos são a família que Deus me permitiu escolher. São meus anjos. São a parte intrinseca aos meus desejos e meus aflitos. Amo-os com cada pedacinho do meu ser. Um amor tão forte, tão ilimitado que às vezes confude-se com a paixão: a posse, o ciúme, o medo. Medo de perder, de não-amor, de dor.                 
É amor. De amigo-irmão; um pedaço em mim para toda a vida. Junto à luta diária contra o medo. Para que nunca, mas nunca mesmo, o medo ofusque o seu brilho eterno em meu cotidiano. E para que cada dia seja uma nova luta, uma nova batalha. Juntos: força(²). Para que os dias não sejam subtrações para a sexta-feira. Que o hoje seja lindo. Lindo! Porque hoje eu posso e quero sentir o calor e o ardor de ter amigos. E passar horas... Horas... E horas... Ao lado. Sem precisar de mais nada. Porque ter amigos é ter o mundo. É ser o mundo.

Georgia Cardoso
em 25.05.2006

Bendito vício

roma, inverno 2009

Confesso que estou viciada. Estou viciada em amar. E de todas as lombras que já senti, não há outra quão poderosa, quão deliciosa. Amar por amar. Paixão é uma droga indolar, maléfica, que cega. O amor não. O amor constrói, o amor não precisa de porquês, o amor não dói, o amor é livre. Move o mundo.
Não imaginava ser um vício tão poderoso e arrebatador. Levou minha vida, meus bens, meus sentidos. Cegou-me. A lombra que intorpece e transcende já fugiu da razão e virou necessidade. E não me basta somente sentí-la, quero transmiti-la. Porque um dia me disseram, mas eu nao sentia. Hoje eu sei: o homem sem amor não é nada. O homem sem amor sente dor. Dor de não amar, dor de rancor e deixa apodrecer...
Plantei o amor sem esperar nada em troca. Porque o amor é assim. Ele simplesmente completa, não precisa de mais nada. Ele extrapola barreiras, basta enxergar. O amor não se limita. Homem errante aquele que confunde o amor com paixão. Que lmita o amor. Amor é força em expansão. É Deus, é Natureza, é Universo. Resta semeá-lo. Não pra colher, mas pra se completar. Porque o Univserso se encarrega por si só de agradecer. E existe coisa melhor do que suspresa? Foi por isso que há muitos anos atrás um homem ensinou que se devia amar ao proximo. E eu não entendia...

Georgia Cardoso
em 22.05.2006

Janelas que conversam

fortaleza/Brazil 2006


Muito se fala sobre o olhar ser o espelho da alma, mas pouco tempo se gasta conversando assim.
Conversamos inconsciente (ou não), diálogos e romances são contados silenciosamente por duas pequeninas frestas. Disponibilizamos o ser e recebemos porquês. 'Por quê você me olha assim?' Se os olhos não forem suficientes, palavras nunca existirão para decifrá-los.
Resta então o exercicio diário: o olhar intensamente, profundamente. De explodir emoção. A conversa silenciosa, que fala de amor, de rancor. O eu sincero que não se deixa mentir, que fala com todo o sentimento. E não precisam de palavras... Nunca foram precisas, palavras são só palavras, são fáceis.

Georgia Cardoso
em 20.05.2006

Quero ser velha


  Londres, primavera 2009

Fácil é ser vanguardista: Sou gay, sou pós-modernista, sou analista de sistemas, sou maconheiro, sou novo, sou quente. Ser novo é ser fácil, ser velho demais é que é difícil.
Desvincular-se dos valores ocidentais e das nossas crenças é que é o grande desafio para O diferente. Capitalismo, cristianismo, heterossexualidade e um leque de informações absorvidas desde nossa concepção até o momento instantaneo - faça isso, seja aquilo! - é que são as designações que nos interessam quebrar. E ser livre! Livre de espirito, livre de pensamento, livre do PRE-CONCEITO. Amar o ser humano em sua plenitude: chega de esteriotipo e clichê pós-moderninho - ele é cult, ele é emo, ele é gay. Somos todos seres humanos providos de sentir, providos de amor. Amor que perde a chama à medida que uma nova invenção (isto mesmo, invenção!) é inserida no nosso cotidiano. E o homem não cansa de inventar, de se mecanizar, de se enraizar de razão.
Não quero que meus filhos aprendam que na vida se nasce, se cresce e se estuda para medicina nem aprendam que a felicidade se manifesta em momentos ou que o amor é a troca entre um homem e uma mulher que fazem votos em um altar. Quero que meu filho nasça e cresça velho, mas bem velho mesmo(!) para que ele sinta que Deus é o próprio universo que o cerca; para que ele sinta o amor entre almas, para que ele nao se sinta dono de ninguém; para que a terra não seja dele nem do seu vizinho; para que ele respeite o seu próximo independente de que ele transe com um homem, uma mulher ou uma árvore e para que ele ame incondicionalmente viver.

Georgia Cardoso
em 17.05.2006

et comme ça pouvoir vivre...

Teatro José de Alencar, Fortaleza/Brazil 2006
Eu sou o que sempre fui, mesmo sem saber quem eu sou. Foi sempe o cheiro do vento que me moveu, o canto dos passaros que me reanimou, a beleza das flores que ascendeu meu amor e a luz do sol que me movimentou. Eu sempre fui e continuo sendo um ser eterno incompreendido no meio das vivencias da carne. Um ser que encontrou o prazer de poder viver atraves do êxtase, pois na verdade sempre foi nas ondas do firmamento que eu quis fazer morada. La longe aonde nao tem carro, nao tem poluicao, nao tem falsidade, nem seres humanos, aonde na verdade so existe a verdade. Eu nao sei aqui viver a verdade, mas eu sei que a unica verdade é o amor. Como uma crianca nua, pura e crua tatuada no peito. Animada no vento, cada atomo ao relento. A pureza concretizada. So no êxtase da criacao terrestre para conseguir andar com o peito aberto. Pois enquanto aberto, sem satisfacao, a crianca bate asas e vai-se embora e acabou-se a vida. Para amar a morada da carne, peito aberto como altar, santuario do que se ha de mais puro, só no êxtase do instante.

O cheiro, as cores, os sons, os gostos e os gozos. E quem sabe um dia encontrar a Verdade...

Georgia Cardoso
em 26.01.2010