Wednesday, August 25, 2010

Aah!

Bernini em Roma inverno 2009

Odeio teatro e personagens.


rumbora vamos Ser! Eu e Tu, tudo junto e misturado.

Revolução Solar

Roma inverno 2009

E hoje eu paro e penso sobre os anos que passaram-se sobre as asas do firmamento, longe dos pés e longe do chão. Meu vento que venta forte como menina moça que adora o alinhar dos cabelos e o sopro pulsante da vida que pode te levar aonde quiser. A idéia, o pensamento, a nuvem de fumaça fofinha que forma cada hora novos desenhos e dentro de cada desenho um novo vôo.

Os anos que pus os pés sobre a Terra foram feito instantes de ar rarefeito, feito o instante do quicar de uma bolinha leve feita de penas de passarinhos coloridos. Daquelas que o vento ja ajuda a subir denovo.

Foram tantos anos em que não haviam raízes, só raizes podres. O ano em que elas quiseram surgir e firmar um autêntico instante perpetuado, foi tanta pressão e desprazer que arranquei tudo fora e construi asas mais potentes. Voei tão longe que atravessei um oceano inteiro, mesmo que o dissessem Tenebroso. Mesmo que a viagem fosse em escala contrária. Do novo pro velho.

Mas pra quem não tinha encontrado o velho, como eu ia começar do novo?

Não foi tão diferente, tudo estava no céu. Mas aquele do Eterno, que até então andava ocultado por nuvens grosseiras de poluição e medo. Soprei com tanta força que lá encontrei um céu estrelado, com anjos e luzes coloridas. Encontrei um passado e o presente-Real. Encontrei familias, amigos, mestres e filosofias. O céu ficou fresquinho e úmido. Grande azulão, ornado por arco-íris e passarinhos coloridos. Com nuvens refrescantes de amor intenso que gotejaram algumas vezes sobre meu jardim.

O vôo ficou faceiro, ligeiro. Ilimitado. Com um belo eixo vertical de vida e compreensão. Feito navem espacial que desbravava Universos e as dimensões. Mas eu descobri lá no céu que eu era uma semente. E que o vento me levava forte por todos os continentes até encontrar as boas condições de germinação.

Então eu fui desbravar as águas do regador. Pois então foi que com a esperança da semente, eu, passarinho, aprendi a nadar no meu mar. Mar platinado de ondas coloridas com espumas fofinhas que refletem todas as cores sobre as suas bolhinhas. Uma bomba de sentir, de emoção com toda a força. O feminino tão feminino. Meu amor do tamanho do mar. Com todos peixinhos e golfinhos do Grande Espírito dentro. Pulsando forte e firme a dança das ondas, mergulhando, feito baleia rosa dentro do oceano, sábia e graciosa nadando no útero sagrado da criação. Eu era peixe também!

Já tenho pois vento, água e semente. Brota aqui então que eu devo ser a terra.

Eu cigana dos ventos, no mar aprendi a nadar e virei sereia. E na terra? No céu me tinham dito que da semente então nasce flor. É bom ser flor?

Cade a flor, cadê a terra? Quero te amar então. O céu estrelado e mar azul eu não conhecia, quando achei me apaixonei. Quero achar, quero brotar, quero ancorar. Lá na Terra eu sei que deve ter areia molhada, flor cheirosa, mel de garrafa, notas de violão e pétalas de vulcão.

Me deixa então cair cheirosa e graciosa.

Georgia Cardoso
em 25.08.2010

Tuesday, August 17, 2010

Recomeçando dentro do presente de ontem

Lyon primavera 2009


Mulher de agua que sou, cresci na praia entre as jangadas, comendo peixe sob a luz da lua cheia, subindo pé de goiabeira, dormindo na rede, fazendo sereia de areia, rezendo ave maria, meu pai é Joao Batista, minha mae é Damiana... Eu sou Geo, filha da terra, das colheitas e da fecundacao, neta de indio, de pescador, de portugues, de lavadeira... 


Georgia Cardoso
04/2010

Fase

Fortaleza/Brazil 2006

Caí no olho do furacão. No valor e na negação que sempre superestimei.
Agora faço parte da minha profética hipocrisia e colhi o que plantei. Fui transcendente, esqueci que a água molha os pés de verdade. Flutuei por alguns crepúsculos, até que senti o frio que alfineta os pés calejados que acreditavam conhecer o caminho e as direções.  
E fica clara a incapacidade e a superficialidade do poder do meu petit momento e das palavras.
Os não-valores atraem, enganam, fingem completar. Pedem-me para desistir; segurar a linha condutora da frivolidade e do hedonismo. E nesse momento de descrer e perder me sinto tentada. Me sinto enganada! Os sonhos e os planos foram tão bem traçados, foram tão almejados; atingidos e potencializados.
Mais uma vez na história a inversão de valores. Já não sei em que mão segurar. Se sigo firme, com coragem e enfrento; quebro a cara (ou nao?). Se me sustento nas certas convicções eufêmicas e corretas que um jovem de 20 anos pode se beneficiar.
Disseram-me para ter calma: esperar.

Georgia Cardoso
em 31.10.2006


***Hoje, 4 anos depois, ao reler a última frase foi como comer doce esperando ser salgado. Um bela surpresa do passado e futuro que na verdade nao existem. Afinal tudo é eterno e Um. Um presente de Mim para mim.

ponto final

teatro josé de alencar. fortaleza/Brazil 2006
 
Não me bastam frases e reticencias, eu quero pontos, quero finais, quero afirmações. Eu quero a certeza. Certeza de querer, de ser, de fazer!

É tudo que eu preciso, objetivo.  

Deixa sim a certeza, já bastou da insegura virgulas, compridaaaaaaa.
 

Tudo reluta, é medo! Não o tem, te assume, te consome. Somos fortes, donos, Ser. Encerra, completa. Sê o que se é.  

Se preciso, exclamações, gritos desesperados, ATENCAO. 


Georgia Cardoso
em 01.08.2006

mão concreta

eu por Eu mesma, Musei Vaticani 2009



Arte!

É musa de inspiração, fonte de suor e lágrima do poeta-menino, na delicia da bruma suave, na noite da terra, na noite do sol. Com linha, com sina, é mina. Da curva, da rua, calma, toda nua.

100 nexo, protesto, desmodelo. Concretizo o ser concreto da mulher , do poeta de concreto do concreto.

100 pretextos, reconfiguro, desconjuro e modulo: frase, teto, forro. Estrutura completa convexa: despreenchimento..  

Abstração do concreto, do piso, da tela, do verbo, da saia, do teto.

Mão concreta.


Georgia Cardoso
em 18.07.2006

ilusão(pl.)

Lyon inverno 2009

Se eu pudesse decifrar o sentimento, a incognita qualitativa de meu cotidiano, seria fácil. Fácil conhecer, compreender, responder. Mas as dimensões a mim oferecidas se perdem no vácuo diante da grandiosidade do sentir.

Folhas, lembranças, mudanças, andanças e você. Não adiantaria tentar trraduzir. É o que se sente e só. Com toda a força e a delicadeza que a fina navalha penetra no íntimo robusto e pedregoso. É fina dor.

 Perder, ganhar, virou jogo. De poder, querer, ter. Mas quem tem? Eu não tenho nada. Ninguém tem nada. Não sou dona de mim. Quem dirá de qualquer coisa... Tudo virará pó, mas o sentir é efêmero: eu quero AGORA! Posso não ter, mas o sentir me possuiu e tentou tirar meu livre-arbitrio. Não tira, mas mascara.

Vida material.


Georgia Cardoso
em 27.06.2006

A semente

  
londres, primavera 2009

A semente é indefesa, atômica - parece utópíca - mas brota; floresce. Tal a energia expansiva, trasitável. Se planta, se colhe. Se deseja, se recebe. 
 
 As energias do Universo movem-se uníssonas. É fisica: ação - reação. É o que nos alimenta, nos enfraquece, nos energiza. Somos matéria, matéria de energia. Energia indestrutível, mas renovável. Depende da semente. Você escolhe o que planta, afinal... Você é forte. Você é todo poderoso de si. É forte para destruir, forte para construir, forte para odiar e, acredite, mais forte ainda para amar. 

 Mas é fraco! Fraco porque esquece que é forte. E se deixa... Se consome... Se engole: de inveja, de rancor, de orgulho, de egoísmo, de pessimismo, de prisão. Cria amarras e esquece o poder da semente. É, ela é pequena, minuscula: indefesa e incrivelmente potente. 

Sinta a brisa suave. É um sinal, é um canal. Deixa ela levar tua fraqueza para os cegos. Abra os olhos do coração. Você é forte, você é capaz: AME! 

Georgia Cardoso
em 07.06.2006

A parede

Fortaleza/Brazil 2006

Meu medo moveu montanhas e criou um novo sistema adaptável. Deixei de viver, de amar, de me arriscar. O novo, o estranho, o medonho: todas quimeras do dia-a-dia que tento gladiar. Mas faltam forças. Sou impotente diante de tantas barreiras inventadas e criadas não pelo Bush nem pelo Papa; é simplesmente (ou não) Georgia. 

A mente criativa, expansiva e indelével. Que cegou; emparedou. Estou presa(!). 

A batalha navalha. E navalha o narciso masoquista. Contra meu poder, minha criação, meu instrumento de trabalho. E será que vale a pena a auto-mutilação? É depredar a mente ativa e expansiva adaptada para extrapolar; ilimitar. Decepar a fluidez do pensamento, decapitar a expansão em movimento.
            
Ela tomou vida própria. Criou, rebuscou, recriou. E trouxe o medo, a nóia, paranóia: a parede.

Georgia Cardoso
em 30.05.2006

escolhidos.

roma inverno 2009
 
Meus amigos são a família que Deus me permitiu escolher. São meus anjos. São a parte intrinseca aos meus desejos e meus aflitos. Amo-os com cada pedacinho do meu ser. Um amor tão forte, tão ilimitado que às vezes confude-se com a paixão: a posse, o ciúme, o medo. Medo de perder, de não-amor, de dor.                 
É amor. De amigo-irmão; um pedaço em mim para toda a vida. Junto à luta diária contra o medo. Para que nunca, mas nunca mesmo, o medo ofusque o seu brilho eterno em meu cotidiano. E para que cada dia seja uma nova luta, uma nova batalha. Juntos: força(²). Para que os dias não sejam subtrações para a sexta-feira. Que o hoje seja lindo. Lindo! Porque hoje eu posso e quero sentir o calor e o ardor de ter amigos. E passar horas... Horas... E horas... Ao lado. Sem precisar de mais nada. Porque ter amigos é ter o mundo. É ser o mundo.

Georgia Cardoso
em 25.05.2006

Bendito vício

roma, inverno 2009

Confesso que estou viciada. Estou viciada em amar. E de todas as lombras que já senti, não há outra quão poderosa, quão deliciosa. Amar por amar. Paixão é uma droga indolar, maléfica, que cega. O amor não. O amor constrói, o amor não precisa de porquês, o amor não dói, o amor é livre. Move o mundo.
Não imaginava ser um vício tão poderoso e arrebatador. Levou minha vida, meus bens, meus sentidos. Cegou-me. A lombra que intorpece e transcende já fugiu da razão e virou necessidade. E não me basta somente sentí-la, quero transmiti-la. Porque um dia me disseram, mas eu nao sentia. Hoje eu sei: o homem sem amor não é nada. O homem sem amor sente dor. Dor de não amar, dor de rancor e deixa apodrecer...
Plantei o amor sem esperar nada em troca. Porque o amor é assim. Ele simplesmente completa, não precisa de mais nada. Ele extrapola barreiras, basta enxergar. O amor não se limita. Homem errante aquele que confunde o amor com paixão. Que lmita o amor. Amor é força em expansão. É Deus, é Natureza, é Universo. Resta semeá-lo. Não pra colher, mas pra se completar. Porque o Univserso se encarrega por si só de agradecer. E existe coisa melhor do que suspresa? Foi por isso que há muitos anos atrás um homem ensinou que se devia amar ao proximo. E eu não entendia...

Georgia Cardoso
em 22.05.2006

Janelas que conversam

fortaleza/Brazil 2006


Muito se fala sobre o olhar ser o espelho da alma, mas pouco tempo se gasta conversando assim.
Conversamos inconsciente (ou não), diálogos e romances são contados silenciosamente por duas pequeninas frestas. Disponibilizamos o ser e recebemos porquês. 'Por quê você me olha assim?' Se os olhos não forem suficientes, palavras nunca existirão para decifrá-los.
Resta então o exercicio diário: o olhar intensamente, profundamente. De explodir emoção. A conversa silenciosa, que fala de amor, de rancor. O eu sincero que não se deixa mentir, que fala com todo o sentimento. E não precisam de palavras... Nunca foram precisas, palavras são só palavras, são fáceis.

Georgia Cardoso
em 20.05.2006

Quero ser velha


  Londres, primavera 2009

Fácil é ser vanguardista: Sou gay, sou pós-modernista, sou analista de sistemas, sou maconheiro, sou novo, sou quente. Ser novo é ser fácil, ser velho demais é que é difícil.
Desvincular-se dos valores ocidentais e das nossas crenças é que é o grande desafio para O diferente. Capitalismo, cristianismo, heterossexualidade e um leque de informações absorvidas desde nossa concepção até o momento instantaneo - faça isso, seja aquilo! - é que são as designações que nos interessam quebrar. E ser livre! Livre de espirito, livre de pensamento, livre do PRE-CONCEITO. Amar o ser humano em sua plenitude: chega de esteriotipo e clichê pós-moderninho - ele é cult, ele é emo, ele é gay. Somos todos seres humanos providos de sentir, providos de amor. Amor que perde a chama à medida que uma nova invenção (isto mesmo, invenção!) é inserida no nosso cotidiano. E o homem não cansa de inventar, de se mecanizar, de se enraizar de razão.
Não quero que meus filhos aprendam que na vida se nasce, se cresce e se estuda para medicina nem aprendam que a felicidade se manifesta em momentos ou que o amor é a troca entre um homem e uma mulher que fazem votos em um altar. Quero que meu filho nasça e cresça velho, mas bem velho mesmo(!) para que ele sinta que Deus é o próprio universo que o cerca; para que ele sinta o amor entre almas, para que ele nao se sinta dono de ninguém; para que a terra não seja dele nem do seu vizinho; para que ele respeite o seu próximo independente de que ele transe com um homem, uma mulher ou uma árvore e para que ele ame incondicionalmente viver.

Georgia Cardoso
em 17.05.2006

et comme ça pouvoir vivre...

Teatro José de Alencar, Fortaleza/Brazil 2006
Eu sou o que sempre fui, mesmo sem saber quem eu sou. Foi sempe o cheiro do vento que me moveu, o canto dos passaros que me reanimou, a beleza das flores que ascendeu meu amor e a luz do sol que me movimentou. Eu sempre fui e continuo sendo um ser eterno incompreendido no meio das vivencias da carne. Um ser que encontrou o prazer de poder viver atraves do êxtase, pois na verdade sempre foi nas ondas do firmamento que eu quis fazer morada. La longe aonde nao tem carro, nao tem poluicao, nao tem falsidade, nem seres humanos, aonde na verdade so existe a verdade. Eu nao sei aqui viver a verdade, mas eu sei que a unica verdade é o amor. Como uma crianca nua, pura e crua tatuada no peito. Animada no vento, cada atomo ao relento. A pureza concretizada. So no êxtase da criacao terrestre para conseguir andar com o peito aberto. Pois enquanto aberto, sem satisfacao, a crianca bate asas e vai-se embora e acabou-se a vida. Para amar a morada da carne, peito aberto como altar, santuario do que se ha de mais puro, só no êxtase do instante.

O cheiro, as cores, os sons, os gostos e os gozos. E quem sabe um dia encontrar a Verdade...

Georgia Cardoso
em 26.01.2010