Tuesday, September 13, 2011

Oração ao Amor

Que o Amor seja o cavalo que te guia dentro da liberdade
Que o amor seja o teu escudo diante do medo
Que o amor seja a certeza que te liberta da dúvida
Que o amor seja a chave que abre as portas da Tua Verdade
Que o amor seja o instrumento que lapida teus sonhos
Que o amor seja a ciência que conduz tua pesquisa
Que o amor seja o encanto que anima tua Natureza
Que o amor seja o compreender que te eleva dentro de Ti
Que o amor seja o balsamo que transmuta tua culpa
Que o amor seja a corrente que movimenta o Rio da Vida 
Que o amor seja o espelho que acolhe tua Luz
Que o amor seja a morte que te faz renascer em leveza
Que o amor seja a ideia que guia teus raciocínios
Que o amor seja o ritmo que embala teu caminhar
Que o amor seja o a única mala para quando for viajar
Que o amor seja a luz que te reconecta com Tua Sabedoria
Que o amor seja Você, pois foi assim que Deus te fez!


Georgia em 12.9.11



Sunday, August 14, 2011

Morrer para renascer


Um dia, um nada que existia
E que da boa vontade se faz nascer
porque das entranhas tudo se pode criar
Um nascer visceral, emergente e flamejante
que se lança e se projeta em direção aos caminhos da vida
um crescer e se construir
colhendo os pedaços de chão que adornam o caminho
Até um reencontro
que de uma infinito refletido
me esparrama em beleza no chão
e desse caminhar e construir tão longo
tudo abandonar
de todo se entregar
para então de uma provavél morte
refinada renascer
fina flor transcendente
desbravando todo o oriente
o céu Todo para as minhas asas

Saturday, July 16, 2011

Convite de um marujo




Eu sei que nois veio aqui porque nos gosta mesmo é de brincar. E é jogando e misturando que as possibilidades vou embaralhar. Até que o riso venha faceiro e nas gargalhadas vou me embalar. Porque se veio em minha casa, no meu jogo vamo joga. De ser pirata e marujar, caçar tesouro e guerrear.

E pra brincar com meus brinquedos, vamos juntos, vamos lá. Eu já trouxe minha jangada que é pra nois não se afundá. Vamo nessa meus amigos, vamos tudo navegar, é a Sereia, Mãe Menina que vem vindo nos guiar. Meu avô seu pescadô já vem chegando pra lembrar: que é  com ouro e com riquezas que nois vamo volta do alto-mar.

Deixe comigo meu amigo, eu já aprendi a manejar. Você, marujo, olhe no fundo, olhe lá dentro do mar. Veja lá, olhe se ouro vê brilhar. E se no fundo num enxergar, veja esse grande tesouro que o Criador fez antes do mar, é você, moça bonita que no reflexo Mãe Iemanjá, me mostrou o que só Ela sempre soube em ti olhar.

Deixa Ela, ô sua menina, a Mãe Sereia vir brincar,  vir conosco, reluzir sua beleza e te ninar no seu banhar. Mostrar ouro, mostrar riqueza, tudo dentro do teu olhar. Olhe bem, moça menina, é tudo manha pra num enxergar. De tanto céu, tanta beleza,  de você mesma dá pra lembrar.

Vamos lá meu povo amigo, a brincadeira só tá pra começar. Você vem ô seu minino, sê meu marujo e navegar, que no meu mar, sem desatino, as minhas historias vou te contar. Vamo junto, vamo achar, e cheio de ouro, todo mundo pra casa voltar.

Thursday, July 7, 2011

Ritmando o prazer


Roma, inverno 2009


Eu penso em desacelerar meus compassos para comer o encantamento do caminhar. E no desacelerar dos meus passos encontrar o tempo de ver as flores e as musicas que irão tocar e uma possível materialização subliminar.
Do tiro que se lança ao alvo, da vontade de se chegar, me pergunto como fazer para mandar a bala ir devagar, como ligar a câmera lenta do meu desejo de chegar ao alvo. Para que esse desejo flamejante se transforme em pedaços repartidos de querer e dessa forma sentir o prazer em cada passo da estrada. Ao invés do imediatismo instantâneo de um querer-e-ser. O desejo que aprende compassado a andar sob todas as esferas e em cada uma aprender a ser desejo e prazer em cada pedaço de vida.

E assim aprender a andar, não mais como tiro de escopeta, mas como flecha brejeira que vai na força do muque. Não mais arma de fogo, mas arma de terra, de gente mesmo, de ser humano. Que sai do meu desejo em movimento, cortando caminhos, desviando arvores, sobrevoando riachos e furando brisas suaves até chegar aonde se quer. Um desejo paciente, de índio, não mais o desejo sanguinário tecnológico, sem desespero de chegar.


Ir pelo caminho de terra, no prazer de vida e natureza que se prepara e se qualifica em cada existência representada. O prazer de ser fogo, de ser mata, de ser água, de ser vento e o melhor prazer, o prazer de ser o que se quer ser.


Andando vou pelo caminho de pedra, caminho de terra.Todo pronto, não preciso ir voando. Devo ir andando. Meus amigos já pousaram no caminho as surpresas do caminho, seu prazer de me encantar com seu amor quando as fitas tornarem-se douradas pelo Sol, e entre as pedras as flores nascerem quando as canções tocarem. O caminho que já é pronto, mesmo sabendo que no final tem um pote de ouro e que se pode voar e furar o tempo, é preciso andar e cantar para cada centímetro de cor que na estrada se apresentar. Para que o prazer não se esgote no chegar, mas que se transforme em prazer de viver todos os instantes até o chegar. E ao tirar cada capa, revelar a Beleza tão diretamente encaminhada e cuidadosamente amada.   

E de tão bom que são, anjos e luzes já jorram seus feixes e nessa claridade, permissão tenho eu de ver a sutileza dos encontros, fogo iluminado que existe aqui sendo o prazer da entrega à Luz.  Do construir luzes, dividir essências, tão mais amplas que a paixão. Assim vejo que da paixão ainda feroz, no pote de ouro se vê a concretização da ternura. Um desejo que até então cego quis queimar as matas por não ter ainda entendimento que se enamorou pelo Sol e que na concretização desse encontro, o que há de haver é uma unidade. Por isso então tanto querer, pois dentro das minhas memórias, minha paixão pelo Sol sempre foi arrebatadora e o único sentido que encontrei para amar tanto assim e querer tanto assim foi ver o Sol na minha frente e a certeza de levar o meu desejo selvagem aos pés dessa Luz.
Então respeitarei a necessidade do sigilo e das capas para que cada uma seja revelada em seu devido momento independente do meu desejo feroz de já querer ser. Esperarei o caminho do desejo em direção ao Sol se construir e se revelar para que a paixão ganhe olhos, boca, ouvidos e tudo que for necessário para se compreender e sentir e transar e lamber cada sentido e gosto desse caminho encantado. 

Monday, July 4, 2011


Do meu lado anda um Índio. Um amigo, que alimenta as esperanças inquebravéis da Criança sonhadora que carrego no meu ser. A força da pureza da esperança da criança é totalmente potencializada pela força de aprovação desse amigo. Que antes mais parecia um Pai e que hoje me mostrou a parceria de uma criança e de um índio. Quando os dois andam juntos, um ao lado do outro, fazendo dos dois um outro só, uma Alma só, o encontro da Força e da Pureza.

Quando essas potências se encontram, parece uma avalanche de felicidade, uma corrente de certezas de luz como a força de uma avalanche que desce do topo da montanha e resignifica todo o formato do contorno das colinas. 

Uma criança é um ser de luz por sempre. Porque nela habitam ainda as lembranças do que existia antes de uma Terra humana, antes de uma humanidade. Ela é um sonho de carne que o mundo tenta deturpar, ensinar. Urgente nela é a presença eterna do professor, esse protetor das idéias tão sagradas dentro da cabeça de uma criança. Alimentando a fome secreta de beleza e pureza de uma criança, construindo os caminhos e processos de preservação do acreditar nessa dimensão tão distante que ela vem. A preservação dessa pureza fica nas mãos desse tutor. Que construirá os caminhos de algodão por onde a criança caminhará e preservará com ela, essa certeza dessa potência no seu Ser de que a pureza, a beleza e o amor existem. E com efeito contagioso, convidará os transeuntes para caminhar no seu caminho, porque o espaço é totalmente elástico. A criança aprendeu a construir as formas e as cores sem grandes pretensões, ninguém lhe disse que as coisas eram impossíveis. Assim ela constrói na certeza de que tudo é como ela quer, a criança, tão feitiçeira que nem precisa se esforçar pra criar na sua magia, porque assim tão simples feito encantamento não esqueceu que tudo é possível.

E o professor simplesmente não permitirá que nenhum outro tente ensinar o que quer que seja à criança. Pois ele, como parceiro, faz aquilo que sabe, dentro da mata, corta as arvores, planta outras, constroi casas, estradas, faz festas, acende fogueiras e preserva, intócavel, a felicidade da criança pelos caminhos da floresta que for necessário passar. 

Chamará convidados especiais, especialistas em diversas áreas, depois de sua aprovação irremediável, para acrescentar aos ensinamentos os mais puros e elevados conceitos da ciência, da arte, da filosofia e da religião. Chamará amigos do céu, amigos da terra e amigos das estrelas. Fará os melhores contatos, viajará os Universos e as galaxias para encontrar os melhores aproveitamentos de idéias e sujeitos. Cruzará os graus e as hipotenusas dos entrecruzamentos de meteoros, pois a criancinha tão pura e sem idéias formadas, aprende fácil todos os assuntos e capta o que lhe dizem como se fosse uma taça esperando a água preenche-la.

O professor de tão ocupado à trabalhar pela criança, parece um bussness man sempre buscando contatos e cruzamentos propícios. Nao cansa de ensinar pois sabe que a criança nao cansa de aprender. Se amam tanto e trabalham tao bem juntos que parecem copo e agua, terra e semente, fogueira e lenha. Um tem tudo pra dar e o outro tem o todo pra receber. Chave e fechadura, as duas asas de um passáro, as nadadeiras de um peixe, as pernas do corpo. O caminhar, o ir, o avançar, a força e vontade. 

O cheio e o vazio.

Wednesday, June 29, 2011

Água de Céu

Pont-en-royans, verão 2009



Em mim dos rios de tantos braços, uma seca violenta, um sol fervente, uma luz inebriante, fez dos braços que sonhava em ser açude secar e virar uma terra seca. Nenhuma gota mais de água, nada que se envolve. A seca.

Um rio, uma consciência, mil braços abertos como uma Deusa que abraça cada homem que acolhe no seu Ventre. Dos braços que secam, num sol castigante, deixam a força do rio para seguir até o mar mais desenvolvida, mais poderosa. Um pedaço de pensamento de abraço que se esvai e sobra espaço, sobra força. Sobra força para seguir, para chegar. Aonde quer que se queira chegar. Rio que vai no mar, rio que vai na cachoeira, rio que vira açude, lagoa. 

Ou braço de rio que seca, e água que não é mais água, que o Sol secou, Ewá levou, virou nuvem, uma idéia que o vento soprou, se segmentou e virou um céu aberto depois que a chuva chove. 

E a gente se lava com a chuva, que um dia foi rio, e agora é água de céu, com as idéias do vento e do ar em cada gota, gotas espiritualizadas, gotas de sabedoria. Gotas de Ifá, gotas de profecia, gotas de liberdade. Gotas de Tempo, gotas de encaixe. Gotas de Oxalá, de bondade, gotas de paz.

Gotas de preto velho, gotas de caboclos, de deuses. Ideias de amor que gotejam e caem. Que lavam, que amam. É quando o céu abraça a terra. 

Wednesday, April 27, 2011

Criando na matrix



O que é a vida senão uma encenação... Construída dentro dos desejos inconscientes ou conscientes à Papai Noel. O sonho, claro ou escuro, manifestado.  O tal plantar-colher, ação-reação. Nós somos Criadores.

E agora aceitando que realmente se é Criador, me permito abrir os olhos e Ver. Meus olhos podem ver as projeções dessa grande construção. Eu e todas as outras coisas. Pelos meus olhos vejo Beleza. Vejo e sinto e ouço... Tudo que em comunhão sagrada me permite viver. Tudo minha escolha.

E junto ao grande Acaso Sagrado concebi com Graça, dois braços, duas pernas, dois olhos, uma saúde perfeita e capacitada a inspirar e experenciar Nossa criação. Porque se a Vida é Mistério, Ele próprio, a medida do tempo que você começa a Viver ao seu lado, você vê que tudo que a matéria pode experimentar em si e fora de si são partes integrantes dessa projeção articulada. E de quebra ainda nos é possível, além de ver, sentir, tocar, ouvir...

Dessa forma a matéria nem parece assim tão dura e estática, parece mesmo uma construção sem fim, imersa dentro do caos, batizada pelos seus impulsos, dançando segundo a Lei, dentro da Ordem.

E quando nessa matéria se dá espaço para abençoar o holograma, ele ganha vida e dimensão, começa a se criar infinitamente dentro da Beleza inerente ao Princípio. E quando a gente aceita, a vida fica sagrada, cada instante, cada momento.

E viver o instante-agora vira um orgasmo. O prazer infinito de viver a beleza de existir dentro de uma projeção não só de formas, mas de gostos, de cheiros, de cores. De significações, de Geometrias, a projeção natural sagrada. Tudo que é natural holograficamente representando a essência do que não é mensurável, nem calculável.

A experiência de se colocar dentro do todo tira os véus, dá o gosto de viver a vida assim como foi dado o Presente, com o Sol ornando a cabeça, as flores sob os pés. A vida material pode ser e é toda beleza. E dentro da minha profundidade que eu mesma cavei se tornou sagrada e alimentarei meu Espírito construindo juntos tudo que é Nosso por toda eternidade, a beleza, a abundancia, a alegria e o prazer. 


Vê dentro de ti e da lua, no fundo escuro, o que criaste. É o que se vive. E no final, tudo é Escolha. 


por Georgia Cardoso
em 27,4,11

Monday, April 11, 2011

Conhecendo o Tempo

POSTER EM A2 - A descida da Madalena, Paris 2010




Sempre quando escrevo consigo me pôr num lugar bom, sem ficar necessariamente fugindo ou puxando um outro lado da realidade que não me devo permitir tocar. E assim se chamando ansiedade, o futuro me envolve na sua energia magnética porque no hoje não existe concordância entre a busca, a descoberta e a representação.

Bom saber que mesmo nesse perde e ganha ainda dá tempo de conhecer pessoas queridas. E nessa então um super-grande conselho que uma amiga preta e velha me deu sobre o viver no futuro: as flores para darem frutos precisam de TEMPO. 

Plim! Direto pro presente!

Caminhar do lado do tempo me pareceu cortar um pedaço de mim. Caminhar na paciência e contar cada passo de segundo pareceu até uma tortura. Ainda bem que o Tempo mora no ar, assim sei e moro na certeza que vamos nos encontrar. Que preta velha esperta!

Andar no Tempo seria andar pé com pé. Mas se no ar não tem pé, como se anda ao lado do Tempo? Como é o tempo no ar... É um cigano também, já vi!!!! Um Cigano apaixonado por toda a criação, brincando de tudo viver, de tudo saber e sentir. Deixando entrar e sair cada coisa na hora certa. No bom tempo. Do lado do Cigano Tempo não existe mau-tempo. Ele conhece a melhor hora de encaixar todas as coisas, a melhor hora de entrar cada passo de dança e promover dentro do caos universal a dança harmônica dos passos que vem e vão e não se chocam: se complementam.

O tempo não é um dançarino, ele é O coreógrafo.

Ele aprendeu tudo, leu todos os livros. Leu os livros do fogo, do movimento, que respira dentro dele mesmo. Sabe o bom-tempo do impulso certo, da libido boa, do salto da kundalini. Ele conhece o passado, o futuro e o presente. Sabe como encaixar as estações da vida promovendo o melhor aprendizado. O tempo deixou até passar o rio agora para eu sentir como ele é importante para mim, as águas quase transbordaram. E o tempo esperto como é, mesmo no “quase”, entendeu que eram alguns segundos os necessários de vazão para promover o sentir e a segurança da emoção que habita em mim. Deixando assim a dança harmoniosa. O tempo conhece o necessário para a consciência se acender. Conhece as porções e as medidas. O tempo vive nas profundezas do movimento.

E a filha do movimento vai ter que procurar a célula da sabedoria. E quando as duas se cruzarem, o Tempo vai irradiar  e assim promover o encaixe em si próprio porque o Tempo não é nem a chave nem a fechadura, ele é o próprio encaixe. Só ele sabe a hora de se existir.

E dentro do movimento do encaixe, as coisas naturalmente crescem... 


O tempo conhece e sabe a hora que o Sol bate e a água entra, ele sabe a boa hora de jogar a semente. O tempo sabe que existe o momento da colheita e o da plantação, conhece o bom encaixe. O tempo é um guia na hora de levantar as casas e arar o roçado. Sabe e quer que os seus filhos tenham do que comer e se abrigar, pede nele confiar. Ele entende a dança da floresta e a cadeia alimentar.


Na dança que ensina o Tempo é tudo sempre perfeito. Pode confiar nele! 


E assim já se vai-e-vem o Cigano Tempo por aí voando, sussurando baixando: é agora..........

Friday, March 25, 2011

Um todo novo outono nordestino

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Nos embalos do Sertão, Lyon 2008. (Nanquim sobre Kraft Reciclado)




Um deserto tenho eu nas minhas mãos, folhas velhas e maduras vou deixar cair sob esse solo afim de lhe arear. É outono no Ceará. E vou trazer ar, espaço e sementes. Muitas e muitas folhas vão suplicar para se misturar com a terra rígida, dura e maltratada pelo sol, nesse chão de terra batida, castigado pelo sol impetuoso, sem descanso, sem folga. Sol, sol e sol, porque nessa terra não há tempo para mistérios, ela só sabe ser nua, ser crua, ser quente, ser sol. Chão de sol, chão de calor, terra batida, terra rachada. Só vive de pés calejados o suportar o ardor, pés fortes e grossos. Como as mãos também grossas que afofam a terra. Terra seca. Terra nordestina. Terra dura.

Meus pés na terra... Posso sentir, tão verdadeira... Não nega quem é, não se esconde. É terra. É o chão resistente, compacto, inteiro. Boa de trabalhar na boa vontade, boa de dançar com passos ritmados. Em terra nua, um chão tambor. O canto das entranhas sai rasgado, o corpo delirante é todo requisitado, cada músculo solicitado.  O tambor clama a vida, pulsa no corpo. O ventre da terra fala a mim da esperança, a esperança da terra grávida. Hora de fecundar o chão. Jogar sementes, cobrir com folhas maduras.

Folhas a cair, enchada na mão. Chão seco. Força. Suor. Sol de suor, sugando toda a água, secando tudo que é terra. Em mim, no chão. Limpando... Quem tem esperança não pode deixar de trabalhar. Há de deixar a terra sempre pronta pro dia que o céu decidir chover. E nesse dia então com o céu chorar. Porque quem tem fé alcança, nós e São José.

Então eu digo que com nóis eu sei que vai brotar, do calo seco, flor vai alumiá. Da terra crua, a cor há de brilhá. E dessa colheita, do milagre nóis vai se alimentá.

Salve!





em 25 de março de 2011.
Georgia Cardoso

Saturday, February 26, 2011

Mistério

Service. Gravura em técnica mista, Paris 2010.



Para tudo no Universo, o átomo. E para cada entre eles, um espaço, Mistério. O mistério que mora infinitamente em cada centímetro de Vida fora e dentro de mim.


O mistério está por toda parte, nada consegue fugir dele. O mistério dança frenético com o vento ou medita estruturalmente nos caules das arvores. Fico me perguntando como é esse misterio que me habita. Será que partilha como no vento, ou será como nas aguas, partilha dor, amor? Partilha a dança, o choro, o coro? 


Acaba que é do mistério decidir o mover e o organizar dos atomos, partículas. É ele o ordenador de todas as danças, o destruidor de todo o resto, o mantedor da ordem. É ele o grande maestro, o que dita, o que cria. O que junta, agrupa e canta a música a se dançar. Decidindo o espaço que quer pra si. Como um sussuro de ar infinito, um sussuro eterno. Deixando ao freguês o gosto de ser asim, um quê de dupla, um jeitinho dois em um de ser.


Uma cabeça, um corpo e o espaço. Uma cabeça que pensa e perdida [re]viaja no passado, projeta e esculpe no futuro. Caótica deixa o corpo, a casa criada, mantida, destruida e ordenada é pelo mistério. A mente que não pensa no presente, deixa o corpo assim ao léu. Ao Deus dará.


Enquanto viajava eu por entre os vazios que me levavam aos outros, vi o mistério. Ele me deixou vê-lo: um garoto em pé, beira da estrada, a cabeça pensava, voava longe; o corpo sozinho, vivia. E o mistério brincava de bater a mão que segurava o celular no peito, no coração. O mistério fazia chamada, mostrava o caminho. Mas a mente viajava cega, perdida, longe de uma casa misteriosa que começa a se revelar. Eu vi, meu corpo fez click, chave-fechadura. 


E o mistério decidiu que não quer mais ser misterioso...




em 26 de fevereiro de 2011.
Georgia Cardoso

Tuesday, February 8, 2011

Assim quando a saudade é meio sem luz

Técnica mista, Paris Natal 2009




Existe dentro de mim uma saudade que nunca acaba, uma sede que não posso saciar, um desejo, um querer ser, um querer estar. Sinto saudade de quem mora perto, mas se materializa longe. Sinto saudade do tempo em que eu tinha todo o tempo do mundo pra receber. Hoje sou eu que tem que dar. 


Sou eu que tenho que me dar amor, sou eu que tenho que me dar atenção, sou eu que cuido de mim. Que preparo a terra, que aplico a teoria. Assim, sabendo que não se é só, mas reclamando que se é. Porque é inegavel que acabei ficando mimada.


Não me vale lá tanta coisa sentir que tem um céu em cima da casa e um chão embaixo dos pés se eu mesma dentro de mim não me faz tão feliz como quando minha familia que me habitava me fazia irradiar. É a mim de habitar, de tomar posse da terra, do corpo. Mas eu sinto tanta saudade é de te louvar, de te encantar, de te embelezar com flores, frutas e perfumes. De mostrar minha poesia, minha rima. De conferir as medidas e dimensões da luz que sai de mim graças a um mim e ti. Escrever na cuca teus ensinamentos, plantar as sementes dos sonhos que não soube sonhar sozinha, me banhar no teu abraço afetuoso. Ai! Que me maltrata ter esse vazio, que me maltrata não ter nem encontrar nada que possa iluminar com as cores que só tu soube me mostrar.


Agora é outro tempo. É um tempo precioso, inédito. É como estar de férias, com olhos de viajantes, eu sei! É um cuidar de mim, um viver pra mim, um descobrir a mim. Só porque nas ondas dessa vibração assim se faz necessário... Logo eu... Tão apaixonada e amorosa por tudo que por mim passasse, tão entregue e alucinada em dar de mim, eu só existo porque o outro existe antes, porque alguém irradia o amor. E minhas outras partes de mim, me ninam nesse ninar sem fim.


Minha natureza é assim, jogada aos pés de tudo que for Verdadeiro. Aonde se há a Vida e Sentido, eu estou lá, de joelhos, fazendo reverencia. 


Mas nessas ondas é diferente. De nada vale já ser o que se é, se o carro, essa carcaça anda meio defeituosa e mal chega na esquina. Tem que cuidar, trocar os freios e pneus, colocar lampadas novas, melhorar os estofados, vale até mudar a pintura. Enquanto toda a carcaça se repara, a estrada fica lá, parada. Esperando eu me jogar no carro e soltar pelas janelas coisinhas bonitinhas por onde for. Levando as vezes passageiros, parando em algumas partes do caminho pra dançar e girar, assim meio sem rumo mesmo. Indo por onde o vento que já é amigo me mostra a direção. 


E parece até assim, parafraseando o partir e o fim, que lá na frente mudou alguma coisa. Parece que o ciclo mudou mesmo, parece que eu estou crescendo. Parece que a roda já vai girando. O Pai vai virando Amigo, vai virando parceria. Eu toda pronta e equipada, autosustentavel, uma beleza de pessoa. Aberta, cheia de amigos e parceiros, andando por aí, dando em dose multipla tudo que eu nao soube um dia no passado dar sozinha. Dando Muito, dando com força, verdade e vontade. Com flores, fitas, doces e perfumes. Já vi, agora tá tudo ok. Quando o carro tiver bom, a gente pega a estrada. Hum? Posso fazer um carro que voa? Se tiver alguem disponivel afim de ensinar, avisa por aí que aqui tem alguem querendo aprender. 


E agora assumo, encontrei até a humildade e o prazer. Ser mecânico é até bom mesmo. Não precisa ter tanta pressa asim, deixa o Tempo lá naqueles conformes, bem perfeitos. Porque o carrinho tá ruim, mas já tá dando pra passear e aproveitar aqui pelas redondezas. Ir até a praia pegar umas conchas pra enfeitar, tõ guardando a prancha, a bicicleta e os oculos de mergulho nele. As vezes até durmo dentro do carro, como por lá, troco o óleo, limpo ele. Sabe, até que já fiz amizade com os professores dessa área, me ensinaram a ganhar espaço no carro e a ficar na frente. E tem uma parte lá que esquenta que eles estão me explicando melhor como funciona. Tem muitas funções, muita coisa pra aprender. E cada função do carro interage com as belezas manifestadas do lado de fora, mexe com os carros que passam, com o povo que atravessa, com o latido do cachorro. Vamo sem pressa, eu consegui captar, tá uma beleza mesmo que seja longe de voces. Saudades.


por 
Georgia Cardoso
em 8.2.2011