Friday, March 25, 2011

Um todo novo outono nordestino

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Nos embalos do Sertão, Lyon 2008. (Nanquim sobre Kraft Reciclado)




Um deserto tenho eu nas minhas mãos, folhas velhas e maduras vou deixar cair sob esse solo afim de lhe arear. É outono no Ceará. E vou trazer ar, espaço e sementes. Muitas e muitas folhas vão suplicar para se misturar com a terra rígida, dura e maltratada pelo sol, nesse chão de terra batida, castigado pelo sol impetuoso, sem descanso, sem folga. Sol, sol e sol, porque nessa terra não há tempo para mistérios, ela só sabe ser nua, ser crua, ser quente, ser sol. Chão de sol, chão de calor, terra batida, terra rachada. Só vive de pés calejados o suportar o ardor, pés fortes e grossos. Como as mãos também grossas que afofam a terra. Terra seca. Terra nordestina. Terra dura.

Meus pés na terra... Posso sentir, tão verdadeira... Não nega quem é, não se esconde. É terra. É o chão resistente, compacto, inteiro. Boa de trabalhar na boa vontade, boa de dançar com passos ritmados. Em terra nua, um chão tambor. O canto das entranhas sai rasgado, o corpo delirante é todo requisitado, cada músculo solicitado.  O tambor clama a vida, pulsa no corpo. O ventre da terra fala a mim da esperança, a esperança da terra grávida. Hora de fecundar o chão. Jogar sementes, cobrir com folhas maduras.

Folhas a cair, enchada na mão. Chão seco. Força. Suor. Sol de suor, sugando toda a água, secando tudo que é terra. Em mim, no chão. Limpando... Quem tem esperança não pode deixar de trabalhar. Há de deixar a terra sempre pronta pro dia que o céu decidir chover. E nesse dia então com o céu chorar. Porque quem tem fé alcança, nós e São José.

Então eu digo que com nóis eu sei que vai brotar, do calo seco, flor vai alumiá. Da terra crua, a cor há de brilhá. E dessa colheita, do milagre nóis vai se alimentá.

Salve!





em 25 de março de 2011.
Georgia Cardoso