Saturday, July 16, 2011

Convite de um marujo




Eu sei que nois veio aqui porque nos gosta mesmo é de brincar. E é jogando e misturando que as possibilidades vou embaralhar. Até que o riso venha faceiro e nas gargalhadas vou me embalar. Porque se veio em minha casa, no meu jogo vamo joga. De ser pirata e marujar, caçar tesouro e guerrear.

E pra brincar com meus brinquedos, vamos juntos, vamos lá. Eu já trouxe minha jangada que é pra nois não se afundá. Vamo nessa meus amigos, vamos tudo navegar, é a Sereia, Mãe Menina que vem vindo nos guiar. Meu avô seu pescadô já vem chegando pra lembrar: que é  com ouro e com riquezas que nois vamo volta do alto-mar.

Deixe comigo meu amigo, eu já aprendi a manejar. Você, marujo, olhe no fundo, olhe lá dentro do mar. Veja lá, olhe se ouro vê brilhar. E se no fundo num enxergar, veja esse grande tesouro que o Criador fez antes do mar, é você, moça bonita que no reflexo Mãe Iemanjá, me mostrou o que só Ela sempre soube em ti olhar.

Deixa Ela, ô sua menina, a Mãe Sereia vir brincar,  vir conosco, reluzir sua beleza e te ninar no seu banhar. Mostrar ouro, mostrar riqueza, tudo dentro do teu olhar. Olhe bem, moça menina, é tudo manha pra num enxergar. De tanto céu, tanta beleza,  de você mesma dá pra lembrar.

Vamos lá meu povo amigo, a brincadeira só tá pra começar. Você vem ô seu minino, sê meu marujo e navegar, que no meu mar, sem desatino, as minhas historias vou te contar. Vamo junto, vamo achar, e cheio de ouro, todo mundo pra casa voltar.

Thursday, July 7, 2011

Ritmando o prazer


Roma, inverno 2009


Eu penso em desacelerar meus compassos para comer o encantamento do caminhar. E no desacelerar dos meus passos encontrar o tempo de ver as flores e as musicas que irão tocar e uma possível materialização subliminar.
Do tiro que se lança ao alvo, da vontade de se chegar, me pergunto como fazer para mandar a bala ir devagar, como ligar a câmera lenta do meu desejo de chegar ao alvo. Para que esse desejo flamejante se transforme em pedaços repartidos de querer e dessa forma sentir o prazer em cada passo da estrada. Ao invés do imediatismo instantâneo de um querer-e-ser. O desejo que aprende compassado a andar sob todas as esferas e em cada uma aprender a ser desejo e prazer em cada pedaço de vida.

E assim aprender a andar, não mais como tiro de escopeta, mas como flecha brejeira que vai na força do muque. Não mais arma de fogo, mas arma de terra, de gente mesmo, de ser humano. Que sai do meu desejo em movimento, cortando caminhos, desviando arvores, sobrevoando riachos e furando brisas suaves até chegar aonde se quer. Um desejo paciente, de índio, não mais o desejo sanguinário tecnológico, sem desespero de chegar.


Ir pelo caminho de terra, no prazer de vida e natureza que se prepara e se qualifica em cada existência representada. O prazer de ser fogo, de ser mata, de ser água, de ser vento e o melhor prazer, o prazer de ser o que se quer ser.


Andando vou pelo caminho de pedra, caminho de terra.Todo pronto, não preciso ir voando. Devo ir andando. Meus amigos já pousaram no caminho as surpresas do caminho, seu prazer de me encantar com seu amor quando as fitas tornarem-se douradas pelo Sol, e entre as pedras as flores nascerem quando as canções tocarem. O caminho que já é pronto, mesmo sabendo que no final tem um pote de ouro e que se pode voar e furar o tempo, é preciso andar e cantar para cada centímetro de cor que na estrada se apresentar. Para que o prazer não se esgote no chegar, mas que se transforme em prazer de viver todos os instantes até o chegar. E ao tirar cada capa, revelar a Beleza tão diretamente encaminhada e cuidadosamente amada.   

E de tão bom que são, anjos e luzes já jorram seus feixes e nessa claridade, permissão tenho eu de ver a sutileza dos encontros, fogo iluminado que existe aqui sendo o prazer da entrega à Luz.  Do construir luzes, dividir essências, tão mais amplas que a paixão. Assim vejo que da paixão ainda feroz, no pote de ouro se vê a concretização da ternura. Um desejo que até então cego quis queimar as matas por não ter ainda entendimento que se enamorou pelo Sol e que na concretização desse encontro, o que há de haver é uma unidade. Por isso então tanto querer, pois dentro das minhas memórias, minha paixão pelo Sol sempre foi arrebatadora e o único sentido que encontrei para amar tanto assim e querer tanto assim foi ver o Sol na minha frente e a certeza de levar o meu desejo selvagem aos pés dessa Luz.
Então respeitarei a necessidade do sigilo e das capas para que cada uma seja revelada em seu devido momento independente do meu desejo feroz de já querer ser. Esperarei o caminho do desejo em direção ao Sol se construir e se revelar para que a paixão ganhe olhos, boca, ouvidos e tudo que for necessário para se compreender e sentir e transar e lamber cada sentido e gosto desse caminho encantado. 

Monday, July 4, 2011


Do meu lado anda um Índio. Um amigo, que alimenta as esperanças inquebravéis da Criança sonhadora que carrego no meu ser. A força da pureza da esperança da criança é totalmente potencializada pela força de aprovação desse amigo. Que antes mais parecia um Pai e que hoje me mostrou a parceria de uma criança e de um índio. Quando os dois andam juntos, um ao lado do outro, fazendo dos dois um outro só, uma Alma só, o encontro da Força e da Pureza.

Quando essas potências se encontram, parece uma avalanche de felicidade, uma corrente de certezas de luz como a força de uma avalanche que desce do topo da montanha e resignifica todo o formato do contorno das colinas. 

Uma criança é um ser de luz por sempre. Porque nela habitam ainda as lembranças do que existia antes de uma Terra humana, antes de uma humanidade. Ela é um sonho de carne que o mundo tenta deturpar, ensinar. Urgente nela é a presença eterna do professor, esse protetor das idéias tão sagradas dentro da cabeça de uma criança. Alimentando a fome secreta de beleza e pureza de uma criança, construindo os caminhos e processos de preservação do acreditar nessa dimensão tão distante que ela vem. A preservação dessa pureza fica nas mãos desse tutor. Que construirá os caminhos de algodão por onde a criança caminhará e preservará com ela, essa certeza dessa potência no seu Ser de que a pureza, a beleza e o amor existem. E com efeito contagioso, convidará os transeuntes para caminhar no seu caminho, porque o espaço é totalmente elástico. A criança aprendeu a construir as formas e as cores sem grandes pretensões, ninguém lhe disse que as coisas eram impossíveis. Assim ela constrói na certeza de que tudo é como ela quer, a criança, tão feitiçeira que nem precisa se esforçar pra criar na sua magia, porque assim tão simples feito encantamento não esqueceu que tudo é possível.

E o professor simplesmente não permitirá que nenhum outro tente ensinar o que quer que seja à criança. Pois ele, como parceiro, faz aquilo que sabe, dentro da mata, corta as arvores, planta outras, constroi casas, estradas, faz festas, acende fogueiras e preserva, intócavel, a felicidade da criança pelos caminhos da floresta que for necessário passar. 

Chamará convidados especiais, especialistas em diversas áreas, depois de sua aprovação irremediável, para acrescentar aos ensinamentos os mais puros e elevados conceitos da ciência, da arte, da filosofia e da religião. Chamará amigos do céu, amigos da terra e amigos das estrelas. Fará os melhores contatos, viajará os Universos e as galaxias para encontrar os melhores aproveitamentos de idéias e sujeitos. Cruzará os graus e as hipotenusas dos entrecruzamentos de meteoros, pois a criancinha tão pura e sem idéias formadas, aprende fácil todos os assuntos e capta o que lhe dizem como se fosse uma taça esperando a água preenche-la.

O professor de tão ocupado à trabalhar pela criança, parece um bussness man sempre buscando contatos e cruzamentos propícios. Nao cansa de ensinar pois sabe que a criança nao cansa de aprender. Se amam tanto e trabalham tao bem juntos que parecem copo e agua, terra e semente, fogueira e lenha. Um tem tudo pra dar e o outro tem o todo pra receber. Chave e fechadura, as duas asas de um passáro, as nadadeiras de um peixe, as pernas do corpo. O caminhar, o ir, o avançar, a força e vontade. 

O cheio e o vazio.