Thursday, May 10, 2012

Eu em mim


EU EM MIM
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Inspiração, Acrílico sobre tela, 2012



Pelas palavras eu penso em deixar fluir aquilo que através da razão eu não consigo penetrar e partir em mergulho profundo em regiões obscuras não por serem más ou desprovidas de beleza, mas por serem ocultas, misteriosas.  Lugares até então desconhecidos, esquecidos. Histórias que ficam guardadas no mais profundo dos baús do inconsciente esperando a hora certa de serem recolhidos e iluminados por velas em castiçais dourados. Revelados. Elevados.

Escondidos tesouros, profundamente enraizados. Esperando a hora a se revelar. Esperando o momento a retornar. E virem à tona, à superfície. Voltar a ser gente, reutilizar-se. Compartilhar desta beleza, até então tão bem ocultada. Por não haver sido tocada, por até então não haver sido requisitada.

E dentro de todas as infinitas horas, vem o seu momento, feito reencontro profundo. Eu e Terra. Como se pudesse ser e sentir a seiva das entranhas do solo subir pelas raízes, percorrer uma estrutura e nutrir frutos que maturam e que se aquecem. Novos nutrientes para frutas novas, mais formosas, saborosas. Daquelas que o sumo escorre pela boca e volta a batizar a terra enlouquecendo os sentidos, enchendo a boca de sabor, nos olhos, na pele.

Até parece que um código profundo foi realinhado, reacordado. Um novo jeito de colher as coisas e puxar da terra energias diferentes: sumos, valores, nutrientes. Para modelar a terra num agora tão diferente em momentos que poderiam até passar despercebidos, não fosse a sensação inebriante que as frutas suculentas provocam em minha boca, em minha língua. Atiçando-me para sugar e ser esta seiva que percorre meu corpo com fervor. Sangue que me percorre com ar, com nutriente, com substância. E vir a ser gozo tranquilo a percorrer as entranhas incessante, alimentando de satisfação meu corpo, meu ego, meu conforto.  Esparramando minha existência em mim mesma, de tanta paixão e alegria envolvidos que acabo sendo quem eu sou.

Da posse tão rara da minha terra, vejo logo lá que já não é mais só a mente minha morada, pois começo sutil e sorrateira a me adentrar e fazer do cálice de terra construção simples e arejada; compactada. Eu me sinto. Eu sou minha. E por mais que não possua-me assim tão inteiramente, já aprendo a percorrer-me em minhas veias. Eu sou meu sangue. E corro por entre mim, e levo o ar. Eu me alimento. Eu sou meu corpo. E me excito diante de tanta tranquilidade como um passarinho que se prepara para pousar e viver uma nova história.

Eu existo em mim e até seria complicado de entender se não houvessem passarinhos tranquilos mergulhados em uma imensidão interior profunda guiados por algo inexplicável quando decolam de um galho a outro. Assim tão naturalmente como um coração que bate.  Coisas que simplesmente são.  

Átomos que se agrupam e se reagrupam aqui e ali com outras coisas. Galho e passarinho, eu em mim. São interações, composições e melodias. Eu e corpo; sinfonia composta. Por mais que (en)cante em momentos abreviados correndo em veias, carregando ares, nutrindo... Ou voando em sinapses, pulsando em corações como um tambor que nunca pára de tocar.

Serei em mim, o tesouro revelado. O baú aberto, iluminado. Me reconhecerei e aprenderei a ser em mim o que ainda desconheço. Coisas novas e diferentes que iluminam o teatro do meu corpo, tão complexo, este Universo que ainda inteiro pulsa condensado. Tudo que se representa em mim, em micro, multifacetado. Nesta terra hei de pousar para ver-me conquistando cada pedaço e vestida de desbravadora, consquistarei a mim e serei em mim. Para que eu possa feliz te mostrar um dia, o movimento do brilho das estrelas quando eu dançar.