Monday, December 26, 2016

Desabafos urbanos


Quanto mais prédio
Maior meu tédio
Não me encontro em meio as construções 
Nem encontro divertimento em copos de cerveja
Amores vãos não aliviam a situação
Meninas fúteis competem a cor da unha
E dinheiro é assunto de mão única
A política do artificial não deixa existir outra forma desigual
Oprime o ar das cidades envenenadas
Marionetes alienadas seguem padrões comportamentais
Não me apetece mais a poesia das resistências
Me inspira de fato tudo que se eleva no natural
Admiro verdadeiramente os poetas urbanos
Repentistas do concreto
Não precisam dos pés de manga
Vivem uma liberdade poética que não entra no meu coração
Sou demasiadamente apegada ao que veio antes da via humana
Hoje sou talvez uma poetisa medíocre
Inegavelmente apegada ao natural
Feito criança que necessita da presença dos pais
Não encontro mais inspiração fora da vida substancial
Georgia, 2016

Paraíba Prometida


Fico meio abestalhada
Em terras cearenses
Captando com minhas antenas algo que me faça vibrar 
Mais eis força grande e invocada
Esse axé paraibano
Que mesmo de mim a longas distâncias
É berço instantâneo de minha poesia
Não entendo que sintonia é essa
Ou se foi uma macumba da gota serena
Pois não é apenas meu pouso seguro
É de onde um todo entranhoso reverbera
Aonde não há espaço pras quimeras
Pois lá finalmente estou livre das capelas
Me sinto apegada a algo que não rima com nenhum tipo de prisão
É terra reluzente que me encarnou de véra
E finalmente me deu vontade de criar raízes internas
Lá vivo um mistério primitivo que envolve o nomadismo
É a terra prometida de quem há vidas caminha para reencontrar
O retorno ao lar que a libertação da alma veio em tantos festejar
Seja o quilombo do negro alforriado
Seja o hebreu liberto em busca de Canaã
Há na alma peregrina um oculto sonho a se cristalizar
Somente o mais profundo sentido de pertencimento é capaz de explicar
A misteriosa terra que em si acolhe
Tudo aquilo que cristaliza o anúncio da liberdade
És o patrimônio autêntico dos alforriados
Georgia, 2016

Sunday, December 25, 2016

Natal Natural


Há quanto Tempo hoje é o dia do Sol?
Logo foi inevitável
E eu acordei querendo brilhar 
Depois de anos plasmados pra me ofuscar
Saturno não me deixa mais negar
Que hoje é o dia do Sol
Não há resistência que suporte o seu triunfar
Minhas vergonhas deixo pra trás
E tudo que mais quero é acompanhar a lei natural
Não tomo a frente
É a natureza que me dá segurança confirmando minhas inspirações
Assim fica tudo mais fácil
Eu só quero o que a natureza quer
É impossível omitir
Que tudo que mais quero é irradiar
A lua sempre iluminou a rua
Meu brilho é inegável pelos caminhos da escuridão
Só iluminar a noite não me basta mais
Apenas sigo o apelo natural
Hoje é dia do Sol!
Georgia, 2016

Caçadora de raízes


Não me canso de caçar inspirações
Não me interessa apenas o que me reafirma
Mas muito mais o que me sustenta 
Me inspira demasiado tudo que me enraiza
O alimento que não canso de buscar
Seja longe de casa ou nos campos do além mar
Busco sobretudo reencontrar a fonte
Subindo ribanceira acima
Afim da raiz que habita na fonte
A que nutre o tronco da realeza
Que me faz ser imensamente feliz
Não careço de platéia
Busco apenas as coerências
Que me fizeram existir mesmo em tempos de escassez
Meu coração não poderia viver sozinho nas imensidoes
Sou alma de passarinho
A vagar pelos campos que semeiam a gratidão
Segurei machados e tridentes para nunca me perder da minha real vocação
 Hoje a felicidade é fato consumado
A me segurar em dias inegáveis na solidão
Para seguramente criar os maneiros laços
Que nos aproximam em unidade
Daquilo que jamais nos repartiu
Georgia, 2016

A morte dos segredos


Todos segredos que guardo
Fazem parte de uma ética que preferiu morrer calada
Hoje caminho alforriada
Graças ao vento que um índio soprou em meu ser
Minha incoerência não faz mais parte da minha ossada
Mas me inquieta os outros que reproduzem essa ideia mal interpretada
A minha finada sombra até outrora foi necessária
Mas a Amazônia me libertou dessa tão antiga bengala
Não alimento minha solitária libertação
Ainda me preocupo com todos os outros sofrendo na servidão
Na dinâmica dessa transformação
Agradeço a todos que me auxiliaram nessa qualificação
Meu passado hoje foi enterrado
Mas alimento a fome de todas andorinhas e verão
Georgia, 2016

A morte do herói


A mais bonita libertação
Envolve sempre a infinita gratidão
De quem ganhou olhos na escuridão
E encontrou força pra lutar contra as injustiças sem humanização
O maior alivio da alma em lapidação
É se libertar das incoerências que podam sua evolução
De que a morte traz pra si a garantida salvação
O belo não me exige mais sacrifícios
Não é preciso se sufocar no amor
Não há juízo quando se morre para amar
Eu que não morro mais de amores
Encontrei no além a libertação que acolho com infinita gratidão
Busco hoje a minha verdadeira sina
De quem VIVE simplesmente para amar
E o mártir abre sua própria cova
Decorando a lápide com a despedida que envolve essa evaporação:
"Aqui jaz aquele que morreu para amar"
Georgia, 2016

Tempo de sobrevivência


Deus criou seu filho Tempo
E de todas suas faces divinas
Me acalenta a face ritmada mais iluminada
Pra todos guerreiros cansados
Pra todas as águas enclausuradas
Pra toda incoerência descarada
Acena o Tempo acalmando a morte anunciada
Pra todas as almas que abafaram sua voz pra sobreviver
Pra todo sacrifício que nos tirou a essência
Mas heroicamente nos permitiu sobreviver
Mas é chegado o Tempo que sobreviver não é mais o suficiente
E se descobre que essa historia de morrer por amor não está com nada
Pois só sobrevivem aqueles que se sacrificam
A sobre-vida conta histórias subterrâneas
De quem sobre si mesmo se escondeu
Para debaixo da terra a destruição não inteiramente lhe liquidar
Acabou o tempo dos sobreviventes
Para quem ja está fora da caverna
Para quem se desenterrou de debaixo da terra
Para quem transbordou seu amor além da permissão da platéia
Para quem respirou novamente o ar da alcatéia
O agora é a hora de todos seres viventes
Não é mais preciso estar sobre nada que lhe ausente
Só sobrevive quem muito chora
Só sobrevive quem muito se poda
E não é possível haver sacrifício pra ser alguém vivente
Enquanto apenas se sobrevive alguém vive sua vida por você
E quando se vive a vida de verdade
A alma clama pra não mais apenas sobreviver
Georgia, 2016

Desabrochar inevitável


O desabrochar que o Tempo cristaliza
É condição inevitável de tudo que é natural
Um sorriso cativado
Um amor bem alimentado
Não haveria pois outra possibilidade
Não é possível abafar as fatalidades
De tudo que vem de dentro
Não é preciso buscar o Sol
Pois o Sol habita em si antes de se buscar
A natureza desabrocha
Assim como tudo que é inevitável
Tudo que o Tempo elabora
Tudo que é dança dentro do coração
Ganha espaço na vida aquilo que é inevitável
Não há competição no jardim das flores
Quando se cultiva a primavera dentro do olhar
Georgia, 2016

O risco da liberdade


Das racionalidades que oprimem a liberdade
Há sempre um excesso de lógica que reprime a espontaneidade
Não há fluidez que se sustente pisando em ovos
Quem muito pensa pouco será
Uma vida pré-programada aflige o fluxo e o desabrochar
Não há futuro que seja tão previsível
Ao ponto de enforcar o meu presente
O subjetivo se perde nas infinitas possibilidades
O objetivo assume o risco da liberdade
Não ha o que temer diante das consequências
Quando o rei-coração toma a frente nessa pulsão
Pelas curvas eu vou
Pela curva livre sempre será
Georgia, 2016

O santo Desatador de nós


Há no céu do meu juízo um santo que desata nó
Não lhe entrego o descarrego da injustiça
Pois seus milagres são imaculados no meu viver
Minha pobre poesia só ganha vida se vira novena em meu viver
A mais pura calma eu ofereço ao santo que não arreda o pé
Destrava todas estribeiras que não brotaram do meu ser
É senhor do meu roçado
Muito mais do que um simples galho
Não vem a terra apenas pra amparar os fracos
É fortaleza na floresta de quem tem fé
Nenhuma semente que posso te oferecer é pura o suficiente
Teu jardim é o mais belo florir da divindade
Minha melhor oferenda mora na honra
De quem descobriu que não vai passar a vida caminhando sem fé
Georgia, 2016

Sunday, December 11, 2016

Proselitismo ambiental


Não sei a idade da minha alma
Mas meus parcos anos não negam minha juventude
Acredito que tenho demasiada sorte
Pelos momentos de morrer e nascer em tão pouco tempo
Nasci desprendida de muitas bandeiras
Mesmo as que mais me salvaram da morte
Hesito: não hasteio
Não vejo motivos pra negar as diversidades de saberes
Nem faço questão que me sigam feito pastoreio
Acho que todo guerreiro de alguma maneira segura a bandeira de seu tempo
E na minha tão evidente mocidade
Sou duma boiada que clama pela sustentabilidade
Ainda não lido bem com o excesso de paixão pelo natural
Sou um tipo de pecadora ecológica
Os mais intelectuais diriam que peco por um proselitismo ambiental
O calor dos meus trinta anos se agonia diante de tanta ignorância
Não julgo merecer condenação por um fervor que não matará nem trará destruição
Política e religião, aí sim, se fantasiam de predadores que não estão ainda em extinção
Sou meio desesperada pela preservação da natureza
As neutralidades que lutei pra preservar
Em muitos casos, a urgência me fez repensar
Meus amigos mais entendidos me ajudaram a me posicionar
Sigo ouvindo os ecos da imensidão
Aceito críticas coerentes e também uma boa orientação
Afinal a arte não deixa de ser uma formadora de opinião
E tudo que mais quero é caprichar nessa lapidação
Mas não se engane, sinhá dona e vosmicê
Tenho amigos de todas as bandas
Meu culto ao natural não se choca com o plástico do vizinho artificial
Isso digo despreocupada
Porque quem manera nas máscaras de camuflagem
Não hasteia bandeiras que proclamam a falta de camaradagem
A união é laço que celebra a nossa diversidade
Georgia, 2016

A perpetuação do guerreiro


Não há nada que precise ser seduzido
Nem naturalmente conquistado
A liberdade sim, é concessão natural
Todo o espaço concedido para a sua aplicação
Cada passo em direção ao sonho
Guarda um pé atrás pra dar apoio
Não alimento afobos invasivos
O livre-arbítrio é lei máxima na concepção
Todo filho que nasce segue sua sina com as interferências escolhidas
A escolha habituada é padrão a ser transcendido
Pois não há dinâmica na estagnação
Se a vida é algo que vem do natural
As escolhas se qualificam para que a vida se perpetue
Não há lógica que se sustente nas condições de atrofia
A natureza dá seus jeitos de se remodelar
Mas a condição humana se atrofia nas amputações
A liberdade se aprofunda no coração dos cegos de nascença
Mas não há quem fure o olho por decisão pensada
Muito mais que ser preservada
A vida há de ser sempre qualificada
Viver apenas para manter conquistas estagna qualquer guerreiro
Não há continuação da vida aposentando o próprio potencial
Georgia, 2016

Alegria sem vergonha


Eu perdi a vergonha do meu excesso de alegria
O êxtase inebriante é resultado do meu existir
A semente do sonho fecundou meu chão
E a alegria da flor não cabe no meu coração
É expansão de pétalas
E o feromônio do amor derrete tudo ao meu redor
O peito é universo aberto
De infinito amor pelos sonhos que minha alma semeou
A chegada da boaventura
Vento solar que confirma a entrega de tudo para a Luz
Sem máscaras de sobriedade
Eu sou a alegria das infinitudes
Dança cósmica que baila meu coração
Sempre que a Luz se cristalizar
Explodo as cores que trago do além
Em todas as direções
E giro as pétalas na frequência do meu divino
Só Ele existe
E nada mais
Georgia, 2016

Tempo do amor

Queria encontrar nas palavras a sanidade que em mim deve existir
Minha paciência se esvai
Muito menos diante da injustiça
Muito mais contemplando o desamor
A injustiça me fez paciente
Porque não, benevolente
Encheu meu coração de compaixão
E me permitiu segurar as mãos de cada ser humano que cruzo
Mas o desamor não me dá paz
Não tenho ainda racionalidade que sustente a falta de amor
Esse sim seria um direito irrevogável
A lei que movimenta minha alma mesmo na escuridão
O desamor me tornou um bicho selvagem
Sou uma onça revolta protegendo os domínios da amorosidade
Sei muito pouco desdenhar a carência humana
Desqualifico apenas os vazios que não fazem crescer
Me atiro correnteza sem restrições
E quebro todas as barreiras que existem em mim
Meu excesso de paciência
Torna o tempo da vida infinito
Só a necessidade de amar me atira sem filtros
Me leva além de qualquer limite
O medo da morte não me aterroriza mais
Nem me condeno por amar demais
Há um passado que merece morrer
E meu instinto inegável me fará sobreviver
O amor passa na frente
É tromba d'agua intermitente
Liberta minha alma de infinitas resistências
Destrói o medo do ego miserável
A fluidez do amor é potencial até então acalmado
A paciência que só os injustiçados conhecem não me deixa estourar
Carrego em mim a justiça que vem com o tempo
Do futuro que me estrutura, há um presente que me sustenta
o AMOR é o próprio tempo
Georgia, 2016

Saturday, December 10, 2016

Bendito fruto


O sentido de uma existência
É equivocado para a compreensão patriarcal
Minha contracorrenteza é natural
Pois trará o fluxo pros que virão
Sou uma mãe valente que sobe rio acima
Atravessa a cachoeira na sina de sua missão
Não haveria vida sem a piracema
Nem a fluidez de um futuro próspero
Sem o enebriante cheiro que me eleva na reprodução
Eu nasci pra subir o rio
O bendito fruto que carrego em mim
É a garantia da continuação de diversas espécies
Não é benefício pra seres isolados
Não vivo sacrifícios individuais
Nem morrerei na cruz pra salvar karma meu nem de ninguém
Sou a fúria rebelada de tempos ancestrais
Minha primitividade não sustenta solitários ideais
Sou lapidação recorrente se guiando pela emoção do coração
Seduzida unicamente pela fonte que anima toda a criação
Voltarei à fonte sempre que minha encarnação permitir
E lá fecundarei as sementes que alimentarão nosso amanhã
Ninguém atravessará minha arte
Sem o alinhamento máximo da Divina permissão
Entrego compaixão na mão de todos os invasores
E cravo no meu peito a única morte que me pertence nesta encarnação
Não há mais quem possa do meu destino me eliminar
Georgia, 2016

Friday, December 2, 2016

A falácia da inteireza


Não é possível existir por inteiro
Tenho infinitas partes por aí
Cansei de lamentar pela minha fragmentação
Se sou um alguém tão incompleto
Só me resta aceitar a fatal condição
Das plenitudes que ficaram no passado
Restam vazios que insistem no meu presente
Sou um alguém pela metade
Uma mulher de muitas partes
E assim permanecerei ao meio
Um ser de infinitas outras combinações
Dualidades eternamente repartidas
Não me basta a miserável solidão
Das pessoas que pensam se bastar
Não aceito mais caricaturas de completude
Não é possível viver uma completa mente só
Nada me pertence
Mas as minhas outras bandas me atraem
Sou a chave de muitas fechaduras
A incompletude é a inevitável via da humanização
Abrindo o coração pra diversas possibilidades de complementação
Recombinar é a plena pulsão das minhas dualidades
Só há plenitude pras chaves que abrem portas
Georgia,2016

Cegueira noturna



Eu não medirei esforços nessa expansão
O primeiro dia de minha libertação já foi anunciado:
Não invocarei meu Deus aonde residir o meu ser finado!
Um eu plasmado injustamente não caminha mais no meu roçado
Minha estrutura não se encanta com devaneios
Meu castelo não coleciona jóias sem fundamento
Não sou bengala nem muito menos tapete
Nenhuma cegueira diurna é capaz de tirar o brilho do meu Sol
A luz não precisa de testemunhas para cumprir sua missão
Nem deixa de banhar o corpo dos cegos para que haja a necessária metabolização
A semente que brota todo um novo paradigma
Atravessa finitas camadas de substrato até sua revelação
Na fundura da sua raíz rasga a terra com uma nova diretriz
Você imagina quantas sementes já se perderam nessa travessia?
É chegada a hora de uma nova forma de fazer poesia!

Georgia, 2016

No vídeo:

Monday, November 28, 2016

Coração Poroso


A maleabilidade que me atinge
Já não tira mais o meu espaço
Ser em si feito barro moldável
Não mais nas mãos de quem me manipula
Já me perdi em muitas inspirações estrangeiras
Hoje sou apenas um coração poroso
Que quase tudo pode perpassar
Vivo em minha mente uma matemática irracional
Não calculo e simplesmente deixo fluir
Ampliado espaço interno de ser o que se é
Não anula o brilho de ninguém
A contramão do óbvio
Tece curvas de compaixão
Quão mais o coração se abre
Menos me perco de mim
Quão mais me expando em ser quem eu sou
Mais gente cabe dentro de si
É meu auto-amor que não pára de quebrar as barreiras que habitam aqui
Georgia, 2016

Saturday, November 26, 2016

O retorno da mulher-da-caverna


Eu quero rezar por tantas coisas
Minhas pisadas caminham em tom de oração
Coisas complicadas que só a fé pode ajeitar
Piso nas folhas secas aliviada
Despoetizando algumas delas
Porque não lido bem com o excesso de revelações
Nem com olhos de gavião sobrevoando meu jardim
Sei que o excesso de mistério me faz viver em eterna economia
Vivo com tão pouco, eu sei
Mas deixar de compartilhar o dom
É muito pior do que viver apenas em meditação
O excesso de inaniçao agora já me bambeia
Deixar todo o espaço pra expressão do outro
Não me satisfaz mais no coração
Escondida com as corujas na mata
Encontrei refúgio seguro diante da destruição
Por mais que minha adaga corte selvagemente o que é desqualificado
Sua navalha de tão velha já está cansada
Talvez seja preciso furar o tempo
Abandonando a tão útil adaga mortificante
Livrando meu peito de uma implosão que me aterroriza dia após dia
Sei que não lido bem com holofotes
Escondida na caverna sempre achei que era lá meu melhor lugar
Mas algo que é além de mim me tira dessa condição
E acredita por algum motivo que na claridade cumprirei melhor minha missão
Georgia, 2016

Diário de uma primitiva


Dentro da cova nunca fiquei em hibernação
A vida contida na meditação é infinita
O Deus da exuberância nunca precisou de forma alguma pra me seduzir
A primavera me empurra pra fora da cova
Lá fora não há tantas belezas como dentro da caverna
Guardo os tesouros velados em meu peito e sigo mundo afora
Já não preciso mais me deixar levar pelo vento
Seguindo os rastros que seduzem minha utilidade
Hoje escrevo uma nova história
E não sou mais sem terra ou sem civilização
Há morada do lado de fora
E me vejo derramada em sensibilidades incessantes
Poderia abraçar todas as fragilidades do mundo
E viver por elas a estrutura que encontrei em mim
Mas já não tenho mais dúvida que algo está além de mim
Pois alguns me guiam de maneira pertinente
Uma paciência serena me coloca em plena observação
Não preciso ter pressa para definir qualquer direção
O método que acolhe esse excesso de maternidades
Remodela-se dentro de mim
Não preciso oferecer minha vida ao outro
Como na caverna pude sem exitar entregar-me ao Sol
É preciso mensurar em si uma matemática divina
Aonde a equivalência da entrega seja proporcional a cada centelha que cruza
A potência que até então era completa
Não precisa mais devorar os filhos como uma forma de reencarná-los
Ainda não sei pisar no mundo dos civilizados
Minha natureza é bruta demais para relacionar-se com os carros e as construções
Tudo isso é inevitável depois de tanta chuva que rolou
Uma tromba d'água se anuncia em meu coração
Felizmente há em mim um velho que caminha sem pressa
E feito melodia que se compõe
Acompanho cada acorde de uma nova canção
E na transcendência dessa melodia
Sinto uma leve brisa cantarolando em meu futuro
Equilibrando em minha consciência a potência que se desenrola sob meus pés
Georgia, 2016

Poesia perdida n.indefinido (2014)


Cura que em tudo está
Falai por mim
Por obséquio
Seja em mim a fonte
De toda tua possibilidade
Encanta dentro de mim tudo que está por vir
Fonte de Deus
Criatividade transcendente
Noite sem perigo
Cheiro de mata
Coragem pra seguir em frente
Choro de libertação
Recomeçar todos os dias
Todos os instantes
Ser lua nova me faz curar
Georgia

Oração ao vácuo

Todas as indefinições
Entre intuições e ilusões
Me deixam ajoelhada pedindo mais tempo
Para que me chegue a sanidade necessária
De ser inteira mais uma vez
Catando porções perdidas no espaço
E sensações d'outros momentos que estão aquém do meu agora
Meu precioso vácuo clama pela minha inteireza
Não há felicidade na fragmentação
Preciso viver em mim o máximo de concentração
Magnetismo que só o vácuo é capaz de sugar
Tudo que me pertence eu chamo de volta
Ao meu direito que é irrevogável
Confio em mim e em todo meu legado
Não tenho vergonha de pedir de volta
Há ciclos que findam
Há amores que precisam ir embora
Mas o que me pertence é território meu
Meus apegos me conduzem para minha melhor hora
Só assim estarei honrando a minha verdadeira história

Georgia, 2016

Sunday, November 20, 2016

Estrelas e esquinas

Sonhar não é eterna perda de Tempo
Cada Tempo mora em Si
Intercalados em suas nuances
Sinto falta do meu Tempo intercalado
Queria dele fazer uma grande casa
Meu peito aberto em alegrias
Caminhantes do céu reinando em seus corações
Um lugar distante cravado nas estrelas
Aonde a alegria é passaporte sem fim
Reconheço e aceito os esbravejantes
Caminham em ruelas e becos em busca de soluções
Por mais que o céu seja caminho aberto
Há quem prefira
Em seu tempo de buzinas
Contar as curvas entre as esquinas
Mas aonde cohabitam estrelas e buzinas?
Um imensidão sem fim se desenha
O senhor dos caminhos em mim nos possibilita
Um pé mora no céu e o outro na viela das cidadezinhas
Cada um cuida do que é especialista
Assim a gente faz da nossa gente um verdadeiro balaio
Eu te dou o brilho das estrelas
e você me dá o desenrolo de suas esquinas
De algum jeito eu aprendo a vibrar em seu mundo
E você também sem se perder vem vibrar no meu


Coração livre


Meu coração é eterna oferenda
Chaves desatinadas se perderam por aí
Logo pois é porta escancarada
Sem chave ou fechadura
Sinfonia incessante
Perdoe-me a falta de submissão
Mas a rebeldia não nasceu em mim sem causa
Quero sempre mais dessa vibração
Uma oitava acima é o sentido da minha missão
Por isso rajadas de vento se encandeiam do meu peito
Um eterno ir e vir sempre com um só destino
Chegadas e partidas se entrelaçam num endereço só
És o porto do meu peito
Eternamente desembargado
Aonde livremente repousa assentado
Na realeza de um fortuna sem medida
Trono que não se empenha em custos
Essência que não coleciona sacrifícios
E se alimenta desse amado sabor
Para ancorar tudo de mais belo que coexiste em mim
Georgia, 2016

Eu em meio

Tenho mania de caçar incoerências
Uma medida sem fim para aparar hipocrisias
Mas na mata também sou caça
E no meio das minhas buscas
Me encontram belezas que me fazem fluir
Eu fui seduzida por essa verdade
O encantamento revela minha imensidão
Abre portais para minha auto observação
Vejo pelos olhos do mundo alguem que devo ser
As coisas nunca são apenas coisas
São parte e extensão dessa relação em mim
Assim como ao outro dou o mesmo direito
E o outro não é quem acho que é
É extensão de mim
É continuação de tudo que ele cria relação ao seu redor
A forma não me encerra
Nem encerra os que me rodeiam
Vivo a todo tempo buscando captar
Um pouco mais da relação de cada um com o meio
Eu em meios
Caminho do meio
Com menos devaneios
Equilíbrio curador que se encanta no Tempo

O deus dos miseráveis

Eu não quero mais assentar em mim o alívio para minha dor
Todos os dias espero o Sol nascer
Pra dentro de mim, aí sim!
Fazê-lo meu altar
Não acredito num Deus que convoca os miseráveis
Nem num Senhor que busca servos para confirmar sua hegemonia
Deus meu amigo, é para mim um velho camarada
E na festa da sua divindade
Eu sou a alegria que comemora sua exuberância
Eu não quero chorar pelo amor de ninguém
Essa não é minha religação
O amor já nasceu em mim antes mesmo d'Eu perceber
Não quero migalhas de nada que eu já tenha em mim
Mas respeito os miseráveis
Que atrás de tanto luxo, piração e fantasia
Escondem sua verdadeira dor
Mazela intermitente
De quem muito se camufla para ser amado
Ferida inflamada
De quem rebaixa os outros pra se sentir capacitado
Pus infectado
De quem odeia a luz e a alegria do seu ser amado
E é por ir tão fundo nessa percepção
Que nunca me falta a bendita compaixão
Mesmo que a esperança da transformação não me acalente
Todo doente merece uma mãe que o amamente
E no silêncio dessa troca conceber a nutrição
Ao acompanhar a dor que sempre caminhou tão só
E segurar a mão em tom de confirmação
Não há mais solidão quando alguém percebe tão doída inadequação
Georgia, 2016

Espaço criativo


Na vida quase tudo é espaço
Espaço que graças a Deus é relativo
E a criatividade foi a ferramenta que achei para usá-lo
Quero sempre um melhor lugar pra cada pensamento
Quero reposicionar minhas intenções
Num espaço dentro de mim aonde eu esteja mais próxima de quem eu devo ser
Me desmotivam idéias limitantes
Ou cabeças que só funcionam no sim e no não
Limpei a casa pra restaurar esse poder
A magia de viver
Todos os dias em mim clamando por seu lugar
Reorganizar
Reposicionar
Cada coisa no mais sublime encaixe
Existem infinitas possibilidades pra uma idéia se posicionar
Não tenho pressa
Nem nada é definido
É constante lapidação em busca do seu melhor lugar
Georgia, 2016

Caminho

É bem no fundo das entranhas
aonde a razão não consegue atrapalhar
que habitam as placas e indicações
daqueles sinais
que ainda dão a direção
Para poder então galopar seguindo rastros
em inefável beleza selvagem
Levando brasas e brasões
Até reencontrar faíscas de fogo
fogueiras da alma
lavas sob superfícies terrosas
pedras que viram chão
Para vermos juntos então o consumar
não mais da tua quimera, capelas...
mas o começo do que já havia de ter sido
daquele velho tratado
ha mil milênios carimbado
meu dna lá assinalado
amarrado em emaranhados
do qual o fio no peito impregnado
me conduz em sutilezas incansáveis
sempre assim...
Pro fluxo ritmado do meu caminho

Transições Poéticas


De que me vale tanta coincidência
Se efetivamente não me desperta sua utilidade
Não me carece perder mais tempo
Impregnada em sincronias
Que nunca vingarão em meu jardim
De que vale colocar meu prazer
Impregnado em emaranhados
Que nunca desatarão seus nós
Perdoe-me a falta de expectativa
Mas não acredito em promessas sem vida
Nem em potros de cavalaria
Reconheço apenas os bichos silvestres
Que na sua liberdade desmedida
Me acenam novas possibilidades
Pra coisas que eu se quer imaginaria
Georgia, 2016

Monday, November 14, 2016

Ninho Eternal

Ninho Eternal
"Dentro do meu ser eu sou um ninho
Vivo aconchegada na imensidão do meu ser
Ninho esse que ultrapassa as barreiras do que os olhos vêem
É do tamanho das minhas possibilidades de viver
Infinito ninho dourado
Espaço sem fim para vibrações afins
Zelo por ti para que aconchegue apenas o que me faz ser como você
Lugar em ti não falta para as preciosidades
Não apenas porque és meu bem mais amado
Mas porque carrega o dom de guardar tesouros
Meus preciosos apegos em ti estão imaculados
A babagem sincera de um espírito infinitamente rico
Pedras preciosas lapidas pelo Tempo
Raridades doadas pela Eternidade
O brilho dessas jóias reluz a qualquer distância
Sempre sei o caminho de volta à casa
Pois meu peito é céu aberto
Pista de pouso para tudo que no Tempo se eterniza"
Georgia, 2016

Revelação das Águas

Revelação das Águas
Já me fazia falta o meu bonito transbordar das águas
Amor já estava aqui conformado na minha cara
Virara até um certo equilíbrio que nada transpassava
Até esse instante de estarmos de mãos dadas
E assim percebo minha luz que também está em todos nós
Somos todos filhos do mesmo Deus
Oh Senhor, Mestre, Mãe e Pai
Minha irmandade em meu entorno comigo está
Em cada rosto vejo a tua face a centilar
Ser tua filha é bom já que em família estou
Amada humanidade em meio a tanta dor
Ainda somos os amados filhos da Luz que aqui raiou
Somos o mesmo Filho que brota do ventre de nosso Deus
Cada um ensaia a sua direção
Em um arco íris que não é dessa dimensão
Dos seios fartos não faltarão nossa nutrição
Amada Mãe
Generoso Pai
Abram as portas pra termos uma melhor percepção
Somos irmãos
Temos o Pão
Nossa redenção!"
Georgia, 2016

Mar é ponte

Mar é ponte
Que me une a cada um
Às vezes ponte distante
Quase não vejo do outro lado
Gente é ponte
Que me aproxima dos transeuntes
Amores emprestados
Facilitando os outros encontrar
Tudo nos serve
Tudo nos aproxima
Tudo nos distancia
Mas não existe mais distância quando se há uma ponte
O mar sempre está lá

Aprendiz eterna

Do muito nada que sei fazer
Inabilidade não me encerra
Aprendiz eterna me completa
De cada poro minha arte dança
Escrevo, ouço e canto
Minha metonímia é linguagem particular
Rezar traduz o que não sei compartilhar
Sem essa vazão meu peito me espera
Saudade maior é a que tenho de ser eu mesma
Meu ser diluído em cada viver em nós

Ser-inexistente

Ser-inexistente
"A transparência de uma existência
Não anula a verdade de seus sentimentos
Ser-transparente caminha na sua polaridade
Vento que o olho não vê
Para qualquer lente se faz ser inexistente
Vento que a pele sente o carinho
Existência inexplicavelmente sentida
Caminha o ar em todos os cantos
Feliz por abraçar
Polarizado, também é triste por inexistir
Tudo que se pode perceber é apenas fruto do efeito
E só assim se comprova sua existência
Ser-existente compadece de suas incompreensões
Ser-existente vai além de toda causa
Ser-existente se reconhece no sabor do fruto
Fruto doce que não toca seus lábios
Mas feliz faz quem dele se saboreia
Felicidade que se completa na saciedade do outro
E a solidão não é sina quando se há efeitos
A transparência abraça o balançar das folhas
O inexistente abraça o vai e vem das ondas
E ecoa canção suave nos ouvidos de quem ainda tem dúvida
Ar que não se perde
Apenas se espalha
Por todos os cantos, poros, buracos
Extremamente penetrável em sua inexistência
Há que se viver em todos os lugares
Dentro, fora e na imensidão de tudo que é Ser
Ser-inexistente cabe em todos os lugares"
Geórgia, 2016

Ser-transparente

Ser-transparente
"A água, eterna criatura transparente
A ela eu sei que nada pertence
O outro apenas vê seu próprio fundo revelado
Ficando a água bonita pelo que preenche
Continua ela de toda forma um ser transparente
A beleza dela que é apenas aquela que está na gente
Sem nenhuma imagem que lhe represente
Assim é a liberdade de Ser-transparente
Apenas inunda o tempo de quem ela preenche
Fazendo a terra se embalar nas águas
Ritmo suave, uma cadência perene
Preenchida por um ser-transparente
Conteúdo acalma o desejo da mente
Sendo ser água algo transcendente
Não dá pra vê-la, ela é transparente"
Georgia, 2016

Tempo da Lembrança

Tempo da lembrança
O carinho que sinto é inegável
Minha infinita saudade foi embora
E sinto um certo orgulho por tudo que já vivi
Cenas distantes permeiam um passado que já não é mais meu
Um verde bonito vem da flecha do que ja caçei
E apenas resta a lembrança do sabor que me matou a fome
O passado não é página virada
Muito menos página rasgada
É fotografia de um Tempo que já se foi
E a experiência observada da minha luneta
Revigora meu futuro
Se lá trás foi tão bom
Sinto incomparável força pra seguir em frente
O futuro me acaricia com as sementes que florescerão
Adiante
Si
Georgia, 2016

Experimentos Existenciais

Experimentos existenciais
Eu que não me contento com o que os olhos veem
Construí minha realidade dentro dos meus sonhos
Algumas telas estão inacabadas
Muitas outras vivem por fazer
Duvido profundamente que eu só esteja aonde posso tocar
Não me encerro aonde meu corpo insiste em ficar
Devo ser alguém diluído
Minha alma está aonde minha memória brotar
Não existe separação quando a lembrança me acionar
A falta que me movimenta mora no desejo e na vontade de poder sentir
Por isso continuo pintando
E a eterna construção é a sina do meu ser mulher
Minha condição humana ativa o dom da gravidade
Eu sei e aceito que as nuvens jamais descerão
Mas o calor da minha existência proclama alguma combustão
Os pingos da chuva assim me acalmam
Me abraçam e fazem essa conexão
Tornando de alguma maneira minha existência real
E o sonho mesmo distante abençoa este território
Que não mais se deixa existir em vão
Algo em mim, assim, sempre vai vingar
Georgia, 2016

Reflexão da Palavra

Reflexão da palavra
"Nem tudo que busquei no outro me trouxe de volta a mim
Duvido muitas vezes das misturas sinceras
Porque palavras soltas no ar não me cativam de verdade
Mas algo em mim sempre me inquieta
Sinto-me tantas vezes meio alquimista
E guardo palavras soltas para eterna observação
Sinto-me eternamente paciente com as palavras
Não descarto frases ditas
Nem discursos proferidos
Não gravo verdades absolutas
Pois essa função das palavras já não me veste mais
Mas as guardo por tempo indeterminado dentro de mim
Não me preocupo com razões geométricas nem lógicas materiais
Palavras são substrato
Composto perfeito para infinitas experimentações
Tudo que a mim foi dito de alguma maneira será experimentado
E surpreende-me frases sem efeito gerando alquimias
Alegra-me incoerências materiais ganhando consistência pelas palavras
Faz-me duvidar menos
Permite-me acreditar mais
O bendito ouro dessa alquimia
Não mora nos resultados imediatistas
Confiar no outro
Confiar na vida
Pode para a minha racionalidade me deixar meio louca
Mas algo dentro de mim percebe o poder da vida
Esse danado poder do verbo
Essas benditas palavras proferidas"
Georgia, 2016

Nutricao do Alivio

Nutrição do Alívio
Minhas extremas incertezas jamais me tiraram do que é cativo
O dom da dúvida me liberta do que se alimenta do incoerente
O alimento indevido tem hora e prazo pra acabar
Me abasteço de uma nova colheita
Minhas benditas dúvidas me salvaram do veneno inconveniente
Meu jejum foi habilmente necessário para minha sobrevivência
Agora reajo com uma fome genuína
Daquilo que é possivelmente salutar pro meu desabrochar
Apesar da fome que senti
Meu corpo nunca deixou de agir
Minha mente nunca deixou de capturar meus sonhos
Se a injustiça é pedra que rolou no meu passado
Meu pranto aflito não me tirou em nenhum momento de mim mesma
Sou verdade rebelada
Fina navalha inconformada
Meu mundo não mora aonde estão meus pés
Mas minha sina está aonde eu decidir pousar
Cravarei em mim o reflexo do clã que me guarda no seu cintilar
Não preciso de espaços de honrarias
Mas compreendo que se não fosse minha rebeldia
Realmente neste mundo eu não pisaria
(Georgia, 2016)

Desabafos alternativos

Eu passei minha vida toda na contramão do sistema e até hoje em dia, com trinta anos, continuo sendo rechaçada e sofrendo diversos tipos de preconceito. Muitas pessoas não entendem nem apoiam minhas escolhas de vida. Sempre fui considerada a rebelde, anarquista, hiponga, perdida. Minhas escolhas estão muito mais pautadas em meu bem-estar e o bem-estar do planeta do que em uma busca ideológica ou motivos financeiros ou expectativas moralistas sociais. Tenho hábitos vegetarianos porque minha saúde agradece, não compro roupa nova porque o que tenho é o suficiente e excedente vira lixo, faço coleta seletiva porque o lixo que produzimos vai acabar com o planeta, moro numa cidade pequena porque aqui eu posso ter qualidade de vida, sou terapeuta holística e pintora porque assim desenvolvo meu potencial interior, deixo o carro na garagem e vou de bicicleta porque o planeta e minha saúde agradece, moro com outras pessoas porque eu sou um bicho que vive em bando e não isolado em caixa de concreto. Pra quem nunca teve coragem de caminhar na contramão, acho que chegou a hora da ousadia pra todos. O mundo está acabando!!!!!!

O Valor da Liberdade

O valor da liberdade
Andar por aí não me serve pra espairecer
É viajando que aposto minhas migalhas no meu melhoramento
Eu digo que são migalhas
Porque quase nada me custa cuidar de mim
Sou ser precioso
Não existe esforço grande
Nem fortuna exorbitante
Tudo que invisto em mim vale pouco demais
É por isso que nunca me falta nada
Sempre me sobrarão infinitas outras migalhas
Eu não sou uma pessoa custosa
Não sou alguém que valha esforço
Meu desabrochar não vale sacrifício
Vale só algumas moedinhas
Que pra mim não valem quase nada
Porque nenhum investimento se compara ao tamanho da minha alma
E eu não tenho esse dinheiro todo
Essa caríssima alma transborda nessa renovação
Me sinto tão profundamente aliviada
Cada dia um peso a menos a carregar
Cada dia meu Sol amanhece mais dourado
Pois ganhei o direito de ser quem eu sou
E as armas de uma vida inteira vão caindo no chão
Meu horizonte brilha mais claro
A guerra se desenha num passado miserável
Quando percebi o racismo, voltei a ser índia
Quando percebi o machismo, voltei a ser mulher
Quando percebi o capitalismo, voltei a ser cigana
E apesar de toda minha enfermidade
A roda da minha carroça em nenhum momento se estacionou
E o clã que me guarda jamais me abandonou
A liberdade me fez sadia
E hoje carrego na bagagem o valioso sorriso da minha aceitação
Ser livre não custa nada
(Georgia, 2016)

Thursday, September 29, 2016

Polaridade necessaria

A noite dos outros pra mim ainda não servia
No buraco do poço lá sim eu me remexia
Na virada da minha liberdade
A prisão por ela apenas não me comovia
Na miserável existência rosnava 
A Prosperidade que no horizonte me contagia
Fatal condição polar
Agita as águas mais que eu me permitia
A Vida que pede passagem
Do seio rio revela sua magia
Fecho os olhos alforriada
Não consigo em nada pensar
Amar é quase tenebroso vulcão
Sacudindo minhas entranhas
Num pouco juízo que me guarda a moral
Se o bicho feroz capricha ao me projetar
Lanço-me quase sobre os outros
Abraçando o que no ontem eu já caçei
Amor felino no outro só cresce a sensatez
Luz eternizada
No meu peito agora é muito mais do que uma regra de três
Matemática celeste não alcança esta sabedoria
Há no menino um segredo
Que só o leite nutridor entende
Porque o filho que bebe é merecedor dessa regalia

Wednesday, September 28, 2016

Desapegos desmedidos

Desapegos desmedidos
"a incrivel arte de se refazer
sao milhoes de equivocos que preciso reaver
meu coracao é puro
mas entendi tanta coisa errada
minha mente é miserável
e a vida escassa de quem aprendeu a nao querer quase nada
desapegos desmedidos desequilibram minha caminhada
uma liberdade mal interpretada
caminho em silêncio na solidão do meu eu
um mundo todo a se observar
e tanto espaço sem fim que quero respeitar
ao outro dou todo direito de se pronunciar
e até a querer por mim o que me recuso a desejar
o nada que tão bem sei fazer
aos outros talvez resolva o seu tanto querer
já a mim, pobre coitada
tanto vazio impenetrável
do que me vale viver querendo quase nada?"
(Georgia, 2016)

Saturday, September 17, 2016

literal

Seria complemento se não fosse literal
O literal em mim é visceral, 
já não mais sonho, desejo, anseio
Eu vivo em mim as raízes de meu povo
Eu vivo e sou
ao lado de guias
caboclos e orixás
Não pinto meu lúdico em músicas de Bethânia
eu sou em cada víscera
em cada músculo, dente e osso
Ogum não corre em estradas musicais
é Senhor que faz correr o sangue em minhas veias
Não canto que acredito para fingir a força
Meu Pai é meu Caboclo
E sua filha obediente é o que quero ser
Não vim pra respeitar as regras desse mundo
Vim pra mesclá-las as minhas verdades
E respirar nas caminhadas
como já me ensinam negros velhos da senzala
Não vou sonhar o lúdico de longe
Pensando na beleza do axé de um tal Caetano
e fazer bico pra uma saída de orixá
Brasil terra de brasileiro
que às vezes parece gente feia
Que ama e odeia aquilo que se é
Só me chame se me aguentar
Porque aonde eu for
Só vou se for inteira
vou com meu povo
vou com minha fé
e o terreiro que me ensinou a ser gente

Sina[...]

Há que se ter muita sina
Sabendo no âmago ser uma índia
Sonhando todos os dias com a mata 
Ah! Minha vida nativa...
Simples, alternando as ativas
Mas eis que aqui estou
Envolta a muros de concreto
Respirando a toxidade que não quero
Doando muito mais do que hoje posso adquirir
Caminhando ao lado de alguns que são como eu
Amenizadas assim ficam as passadas
Já que nos damos as mãos!
E compartilharmos a entoada dessa canção
Que na mata do meu peito nos vejo quase que em missão
Abrindo a voz pra que alguém recorde
Ou quem sabe se encante
E a Pachamama respire sem tanta destruição
Bandeirante de outro tempo
Assim me sinto
Abrindo a densidade com este facão
Haja garra, haja sina
Não posso simplesmente passar sem de alguma maneira contribuir com uma nova visão
A Terra grita[!]: "Tem alguém aí?"

Alivio aquoso

O alívio que a água me impregna na carne
Depois de muito chorar
Aparece-me assim subitamente sem nenhuma lágrima rolar
o alívio das águas me banham sem precisar tocá-las
Aconchegada no emocional
Poderia viver como peixe todos os dias
No aconchego do meu peito
Viver no mais puro alento
Quentura mansa me desativa de qualquer obstrução
Serenidade amorosa repousa no centro
Silêncio aquoso
Meu carinho amoroso
Para mim
Todo em mim
Amanhã vos darei quando para a estrada eu voltar
Mas hoje preciso me banhar um pouco neste colo que tanto quer me ninar

Morte renovadora


"Das duas faces de uma mesma lua
Uma ilumina as histórias diluídas
Revelada, pois, é uma luz agora desempoeirada
A outra revela as entrelinhas doídas
Face lunar que me reorganiza
Bendiz meu caminho enovelado
Nessa samsara jamais interrompida
Navalha o excesso de especialidade
Meramente rarefeito
Sem espaço para tanto enfeite
O ego imaculado puxa a forca
Já não há mais espaço
Seu suicídio é eminente
Nao ha mais brilho
Nem noção de realidade
A essência sim, divinizada, há de buscar um outro espaço
Desejo a toa se desmascara
Sem brilho não há mais o que se deseje
Sem ego a paixão se perde e dentro dele se estremece
Sentimento fraterno me rompe no ar
Nada mais além do que o necessário
Assim a roda gira uma oitava acima
O sol se põe
E o vazio me rompe uma nova vez
Amado é o vácuo: pois é inteiramente meu!
Desejo iluminado é esse tal de recomeçar!
Georgia, 2016

Tuesday, August 23, 2016

noite

Para tanta noite que há em mim 
Noite esta que pelo mundo nunca vi
Noite aquela empoeirada de estrelas
Não há viela, rua ou encruzilhada

Nos meus olhos de rapina
Cada estrela é constelação
Na minha escuta canina
Cada ruído é respiração
Farejando o que me desperta fome
Posso predar sem discriminação

Na noite eu me encontro
Na noite eu me refaço

Monday, August 22, 2016

Direção para a transcendência

 "Apago-me e deixo o mundo brilhar
Tudo pode me inspirar
Cada pedaço ao redor de mim pode me compor
Girando ao redor do meu centro
A força centrípeta me conduz
O outro lado do arco-iris
A mais pura respiração
O mundo vive nova mente
O ar bate a porta da minha casa
E as salas abandonadas se oxigenam
Varrendo o que perdeu o sentido
Colorindo meu âmago
Com a fé no que aprendi a contemplar
Dentro de mim uma nova fórmula
Reformular-se
Não me importa o que virá
Apenas confio no outro lado do arco-iris
Deixo-me evaporar" (Geórgia, 2016)

Saturday, August 20, 2016

Desabafos libertários



Desabafos libertários
Eu que não entendo quase nada da liberdade
Brincando no vento só vivi a me desfazer
Virei areia no vento
Palavras sussurradas
Brisas matinais
E tudo que só vivesse para ir e nunca mais voltar
Eu que não entendo quase nada sobre a liberdade
Construí meus valores em cima de tudo que se pudesse desvalorizar
Me perdi entre as dualidades
Apego e desapego a se degladiar
Decidi não olhar pra trás
Arranquei todas as raízes
Achei que o apego ia me aprisionar
Não entendia que ser livre era algo além de não olhar pra trás
E que o mesmo vento que balançou meus cabelos jamais se desfaz
Que a folha verde desprendida da árvore continua sua trajetória fulgas
E que todo passarinho desbravador tinha um ninho pra se assentar
Tudo continua a sua maneira
Nada finda, tudo é vida
Então fui tão livre que decidi não me desapegar
Olhei bem mais fundo e me descobri
Que a liberdade amava o apego
É a liberdade que me faz decidir
É a liberdade que me faz segurar
É a liberdade que me faz decidir ficar
Eu me encontrei