Saturday, March 24, 2018

Dor de carnaval

Dor de carnaval

Saudade é faca afiada
Afiando meus vazios
Despreenchimentos sem fantasia armada
Cortam-me os ânimos
Esfaqueiam meus gerúndios
Faltas desfocadas
Carências não explicadas
Ruas vazias
De um carnaval que eu não vivi
Cenários despreenchidos
Histórias já contadas
E eu pagando de otária
Não distingo o que eu sinto do que faço
Me perdi nas cinzas de um carnaval
Que meu corpo não preencheu
Cenário brasileiro
Senzala aprisionante
Que a escravidão por aqui deixou
Das correntes brasileiras
Mesmo que nesse agora eu seja estrangeira
O contexto não me perdoou
Me cremou nas cinzas do carnaval
Pra meu coração também conhecer essa mesma dor

Georgia, 2018

A libertação do Respeito

A libertação do Respeito

Quando o medo liberta a luz do que respeito
Não há porque se apagar dentro dos receios
Ou se reprimir ainda para ser aceito

Respeito não faz rima com supremacia
Mais do que uma metonímia
Carrega o peito sempre que se pronuncia

Meu peito não apenas pulsa em demasia
Como encontra uma ressalva quando se anuncia:
Respiro
Resguardo
Ressurjo
Resgato
Desprego do medo que ficou entalado
Quando desaprendi o caminho do meio
E ainda me calei por não saber falar direito
Faltou por mim mesma o apoio que nutre meu seio

Congelei no medo
Meu pobre peito sem freio
Sufocou-se enquanto não me dei o devido respeito
Pra que hoje o amor que resguardo no peito
Possa encarar de frente
Tudo que clareia o que realmente respiro no meu centro

Georgia, 2018

Tempo de hibernação

Tempo de hibernação

Há um prazer incompreendido
Guardado no peito dos buscadores
Costumeiros a vida na mata
Nem lembram mais o que é a vida fora da caça
Como uma aposentadoria que chega antes do tempo
Confunde a rotina quando se finaliza antes do que planejo
Caçadas compulsivas que já não concebo
Refaz a mente num fim além do meu próprio desejo

Nas tantas buscas que se finalizam
Marcam o nascimento do que em mim já acharam
Não posso correr mais para dentro da mata
O caçador se despede depois de uma toda longa temporada
A curiosidade avança já um tanto desgastada
Já não me lança mais em uma nova caçada
Só vejo a hora da hibernação
E do descanso de quem já cumpriu a missão
Para que um outro filtro cuide da minha percepção
E assim desenvolva aquilo que já se achou no coração
É preciso hibernar quando a alma pede a chegada de uma nova estação

Georgia, 2018