Thursday, July 7, 2011

Ritmando o prazer


Roma, inverno 2009


Eu penso em desacelerar meus compassos para comer o encantamento do caminhar. E no desacelerar dos meus passos encontrar o tempo de ver as flores e as musicas que irão tocar e uma possível materialização subliminar.
Do tiro que se lança ao alvo, da vontade de se chegar, me pergunto como fazer para mandar a bala ir devagar, como ligar a câmera lenta do meu desejo de chegar ao alvo. Para que esse desejo flamejante se transforme em pedaços repartidos de querer e dessa forma sentir o prazer em cada passo da estrada. Ao invés do imediatismo instantâneo de um querer-e-ser. O desejo que aprende compassado a andar sob todas as esferas e em cada uma aprender a ser desejo e prazer em cada pedaço de vida.

E assim aprender a andar, não mais como tiro de escopeta, mas como flecha brejeira que vai na força do muque. Não mais arma de fogo, mas arma de terra, de gente mesmo, de ser humano. Que sai do meu desejo em movimento, cortando caminhos, desviando arvores, sobrevoando riachos e furando brisas suaves até chegar aonde se quer. Um desejo paciente, de índio, não mais o desejo sanguinário tecnológico, sem desespero de chegar.


Ir pelo caminho de terra, no prazer de vida e natureza que se prepara e se qualifica em cada existência representada. O prazer de ser fogo, de ser mata, de ser água, de ser vento e o melhor prazer, o prazer de ser o que se quer ser.


Andando vou pelo caminho de pedra, caminho de terra.Todo pronto, não preciso ir voando. Devo ir andando. Meus amigos já pousaram no caminho as surpresas do caminho, seu prazer de me encantar com seu amor quando as fitas tornarem-se douradas pelo Sol, e entre as pedras as flores nascerem quando as canções tocarem. O caminho que já é pronto, mesmo sabendo que no final tem um pote de ouro e que se pode voar e furar o tempo, é preciso andar e cantar para cada centímetro de cor que na estrada se apresentar. Para que o prazer não se esgote no chegar, mas que se transforme em prazer de viver todos os instantes até o chegar. E ao tirar cada capa, revelar a Beleza tão diretamente encaminhada e cuidadosamente amada.   

E de tão bom que são, anjos e luzes já jorram seus feixes e nessa claridade, permissão tenho eu de ver a sutileza dos encontros, fogo iluminado que existe aqui sendo o prazer da entrega à Luz.  Do construir luzes, dividir essências, tão mais amplas que a paixão. Assim vejo que da paixão ainda feroz, no pote de ouro se vê a concretização da ternura. Um desejo que até então cego quis queimar as matas por não ter ainda entendimento que se enamorou pelo Sol e que na concretização desse encontro, o que há de haver é uma unidade. Por isso então tanto querer, pois dentro das minhas memórias, minha paixão pelo Sol sempre foi arrebatadora e o único sentido que encontrei para amar tanto assim e querer tanto assim foi ver o Sol na minha frente e a certeza de levar o meu desejo selvagem aos pés dessa Luz.
Então respeitarei a necessidade do sigilo e das capas para que cada uma seja revelada em seu devido momento independente do meu desejo feroz de já querer ser. Esperarei o caminho do desejo em direção ao Sol se construir e se revelar para que a paixão ganhe olhos, boca, ouvidos e tudo que for necessário para se compreender e sentir e transar e lamber cada sentido e gosto desse caminho encantado. 

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