Thursday, September 29, 2016

Polaridade necessaria

A noite dos outros pra mim ainda não servia
No buraco do poço lá sim eu me remexia
Na virada da minha liberdade
A prisão por ela apenas não me comovia
Na miserável existência rosnava 
A Prosperidade que no horizonte me contagia
Fatal condição polar
Agita as águas mais que eu me permitia
A Vida que pede passagem
Do seio rio revela sua magia
Fecho os olhos alforriada
Não consigo em nada pensar
Amar é quase tenebroso vulcão
Sacudindo minhas entranhas
Num pouco juízo que me guarda a moral
Se o bicho feroz capricha ao me projetar
Lanço-me quase sobre os outros
Abraçando o que no ontem eu já caçei
Amor felino no outro só cresce a sensatez
Luz eternizada
No meu peito agora é muito mais do que uma regra de três
Matemática celeste não alcança esta sabedoria
Há no menino um segredo
Que só o leite nutridor entende
Porque o filho que bebe é merecedor dessa regalia

Wednesday, September 28, 2016

Desapegos desmedidos

Desapegos desmedidos
"a incrivel arte de se refazer
sao milhoes de equivocos que preciso reaver
meu coracao é puro
mas entendi tanta coisa errada
minha mente é miserável
e a vida escassa de quem aprendeu a nao querer quase nada
desapegos desmedidos desequilibram minha caminhada
uma liberdade mal interpretada
caminho em silêncio na solidão do meu eu
um mundo todo a se observar
e tanto espaço sem fim que quero respeitar
ao outro dou todo direito de se pronunciar
e até a querer por mim o que me recuso a desejar
o nada que tão bem sei fazer
aos outros talvez resolva o seu tanto querer
já a mim, pobre coitada
tanto vazio impenetrável
do que me vale viver querendo quase nada?"
(Georgia, 2016)

Saturday, September 17, 2016

literal

Seria complemento se não fosse literal
O literal em mim é visceral, 
já não mais sonho, desejo, anseio
Eu vivo em mim as raízes de meu povo
Eu vivo e sou
ao lado de guias
caboclos e orixás
Não pinto meu lúdico em músicas de Bethânia
eu sou em cada víscera
em cada músculo, dente e osso
Ogum não corre em estradas musicais
é Senhor que faz correr o sangue em minhas veias
Não canto que acredito para fingir a força
Meu Pai é meu Caboclo
E sua filha obediente é o que quero ser
Não vim pra respeitar as regras desse mundo
Vim pra mesclá-las as minhas verdades
E respirar nas caminhadas
como já me ensinam negros velhos da senzala
Não vou sonhar o lúdico de longe
Pensando na beleza do axé de um tal Caetano
e fazer bico pra uma saída de orixá
Brasil terra de brasileiro
que às vezes parece gente feia
Que ama e odeia aquilo que se é
Só me chame se me aguentar
Porque aonde eu for
Só vou se for inteira
vou com meu povo
vou com minha fé
e o terreiro que me ensinou a ser gente

Sina[...]

Há que se ter muita sina
Sabendo no âmago ser uma índia
Sonhando todos os dias com a mata 
Ah! Minha vida nativa...
Simples, alternando as ativas
Mas eis que aqui estou
Envolta a muros de concreto
Respirando a toxidade que não quero
Doando muito mais do que hoje posso adquirir
Caminhando ao lado de alguns que são como eu
Amenizadas assim ficam as passadas
Já que nos damos as mãos!
E compartilharmos a entoada dessa canção
Que na mata do meu peito nos vejo quase que em missão
Abrindo a voz pra que alguém recorde
Ou quem sabe se encante
E a Pachamama respire sem tanta destruição
Bandeirante de outro tempo
Assim me sinto
Abrindo a densidade com este facão
Haja garra, haja sina
Não posso simplesmente passar sem de alguma maneira contribuir com uma nova visão
A Terra grita[!]: "Tem alguém aí?"

Alivio aquoso

O alívio que a água me impregna na carne
Depois de muito chorar
Aparece-me assim subitamente sem nenhuma lágrima rolar
o alívio das águas me banham sem precisar tocá-las
Aconchegada no emocional
Poderia viver como peixe todos os dias
No aconchego do meu peito
Viver no mais puro alento
Quentura mansa me desativa de qualquer obstrução
Serenidade amorosa repousa no centro
Silêncio aquoso
Meu carinho amoroso
Para mim
Todo em mim
Amanhã vos darei quando para a estrada eu voltar
Mas hoje preciso me banhar um pouco neste colo que tanto quer me ninar

Morte renovadora


"Das duas faces de uma mesma lua
Uma ilumina as histórias diluídas
Revelada, pois, é uma luz agora desempoeirada
A outra revela as entrelinhas doídas
Face lunar que me reorganiza
Bendiz meu caminho enovelado
Nessa samsara jamais interrompida
Navalha o excesso de especialidade
Meramente rarefeito
Sem espaço para tanto enfeite
O ego imaculado puxa a forca
Já não há mais espaço
Seu suicídio é eminente
Nao ha mais brilho
Nem noção de realidade
A essência sim, divinizada, há de buscar um outro espaço
Desejo a toa se desmascara
Sem brilho não há mais o que se deseje
Sem ego a paixão se perde e dentro dele se estremece
Sentimento fraterno me rompe no ar
Nada mais além do que o necessário
Assim a roda gira uma oitava acima
O sol se põe
E o vazio me rompe uma nova vez
Amado é o vácuo: pois é inteiramente meu!
Desejo iluminado é esse tal de recomeçar!
Georgia, 2016