Sunday, May 14, 2017

O rejuvenescer da velhice



Eu que já me cansei tanto
Com quem dá jeitos de o outro rebaixar
Já cheguei num ponto
Que até cansei de me cansar
Já me desestimulei tanto com quem só semeia descaso
Que até achei que tinha me acostumado
Toda poda no canto errado
Impede que a árvore amadureça
E o que de fato me desmotiva
É essa completa rendição
De quem perdeu a reação
E se acostumou com as injustiças
Se conformou com as incoerências
E pensa em mudar de rota
Por desistir de ser a resistência
Meu desespero pela paz
Me fez fugir de qualquer conflito
Investi em tanta transcendência
Pra de algum jeito encontrar minha inocência
Que fiquei sem polaridade
E a injustiça me expulsou de dentro de casa
Não sinto raiva
Pois o meu Tempo voltou
E mesmo fora de casa a rua nunca me abandonou
A rua me ama
Como o céu ama os passarinhos
Mas algo em mim ainda se pronuncia
Numa discreta exclamação
Não é possível me tirar o ninho
Na minha história o que é antigo não tem função de descartável
São nas relíquias que se encontram as raridades da antiguidade
Sou como o vinho que melhora com a maturidade
O sabor da minha alma com o tempo se torna mais apurado
E minha consistência cada vez mais tem então se encorpado
Quando eu enfim envelheço
E vejo tudo que resistiu ao desapego
Seguro em minhas mãos o que é então tão velho quanto eu
E rejuvenesco em todos os envelhecimentos

Georgia, 2017

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