Sunday, November 5, 2017

Mito da caverna revisitado

Mito da caverna revisitado

Houve um dia que o Sol olhou pra mim
E talvez por isso me sinta tão diferente
Pois há um mim um desejo ausente
De ter os holofotes sobre mim
Contradições que constroem o meu dilema
Pois há algo de bom que de mim transborda
Não é só cor e poesia no tecer da minha teia
Há tantos segredos que não cabem mais alojados aqui
Mas sigo sem graça sem saber subir no palco
Por mais que eu saiba que é necessário dar esse salto
Sair da caverna que abafa meus poemas
Desfazer o casulo que tira o sentido  de existir da flor de Açucena
E deixar o rastro do arco-íris surgir
Eu sei que o ritmo que nessa altura fomenta
Tirou-me inúmeras e incontáveis vendas
E mesmo com medo da luz que me alumeia
Há algo que me diz que fora do esconderijo
É possível ter uma vida ainda mais inteira
Já fui perseguida por nascer mulher
Chamaram-me de puta, bruxa e feiticeira
Minha preservação se fez escondida na ribanceira
Hoje me contam que é tempo de outras maneiras
E o Sol que diz ser cheio de paciência
Prometeu me deixar respirar
E que meu corpo não vai mais precisar queimar

Georgia, 2017

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