Saturday, January 21, 2017

Índia descolonizada

Índia descolonizada

De todos os riscos que envolvem a liberdade
Caem os cascalhos no chão que aterrorizam as multidões
Não posso mais me doar com sacrifícios
Nem há luz no que me seduz por medo
Busco apenas conexões sinceras
Dessas que não há racionalidade para explicar
Porque algo sem culpas simplesmente é o que é
Não queimo mais na fogueira cristã
O diabo que me perseguiu morreu de febre terçã
Não há mais a possibilidade de abandonos
O favoritismo não se contrasta mais com o ser-submisso
O caminho do meio traz de volta a liberdade
Não proclamo austeridades
Apenas me destaco de exagerados contrastes
Da irresponsabilidade que não me enaltece
A maturidade das perdas oferece a melhor oferenda
De que nenhuma infantilidade foi capaz de suportar
A ousadia que apenas as sutilezas são capazes de ancorar
O fogo autêntico que brota da minha natureza
Já cansei de me movimentar pela força dos chicotes
Não há transparência em nenhum índio preso em nevoeiros
Hoje me devolvo a mim mesma
E compreendo as rebeldias que se desapegam
De toda uma ancestralidade guerreira presa em cativeiros
Minha liberdade indígena que demorei tanto pra captar
Presa a tantos conceitos emprestados
Sofri demais amarrada a tanta catequese
Caminho no mato novamente que mora dentro de mim
A maior liberdade que corre em minhas veias
É aquela que brota de dentro da natureza
Não me estranho mais com minha selvageria
Meu grito alforriado não há mais o que revirar
Meu horizonte une os mundos que carreguei dentro do meu ser
Me cederam a força dos viajantes
Pra que em algum momento eu lembrasse a liberdade de um índio
Que aqui esteve antes de se colonizar meu verdadeiro Brasil

Georgia, 2017

No comments:

Post a Comment