Saturday, January 21, 2017

Maternidade magnética

Maternidade magnética

Sinto-me totalmente abduzida pela rotina
Aterrissei no dia-a-dia que tinha esquecido que existia
Deixei a vida me sugar em todas situações que eu me fizer útil
Quase não tomo decisoes
Quase não vivo meus desejos
Estou sempre sendo chamada em algum lugar
E discordo de quem disse que a poesia é a única virtude do inútil
Poeta velho amigo talvez não desabrochou outras realidades
Nem só de poesia vive meu dia-a-dia
Todo dia o galo canta me informando aonde começará meu dia
E a noite me ilumina pois tem gente que não recebe mais amor de dia

Há no mundo muita escuta pra quem carece de atenção
O grito aflito me atrai feito imã poderoso
Me abduz com um magnetismo gigantesco
E a sina da minha rotina é acolher todas emoções decaídas
Filhos da desesperança
Não há tempo pro lúdico
Quando a cura está segurando a mão da necessidade
O olho no olho que se apagou na pobreza capitalista
É a moeda que traz de volta a prosperidade
O desabafar sincero de quem reencontrou a confiança
É o alívio natural de quem no mundo só levou cortadas
Poder se ouvir todas insanidades sem o abraço da culpa
Nem a direção de um caminho correto
É o bálsamo de quem cansou de ser manipulado
Apenas poder acolher um presente imperfeito
Num mundo de extensas modulações
Não há composição que sustente o acolhimento no futuro
A vida pede colo no agora
E um corpo só as vezes parece pouco pra tanto amor que o mundo quer sugar
O problema não está no filho que não quer largar o peito
É não poder ter mais seio pra toda fome que o bendito imã me manda saciar

Georgia, 2017

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