Sunday, November 20, 2016

O deus dos miseráveis

Eu não quero mais assentar em mim o alívio para minha dor
Todos os dias espero o Sol nascer
Pra dentro de mim, aí sim!
Fazê-lo meu altar
Não acredito num Deus que convoca os miseráveis
Nem num Senhor que busca servos para confirmar sua hegemonia
Deus meu amigo, é para mim um velho camarada
E na festa da sua divindade
Eu sou a alegria que comemora sua exuberância
Eu não quero chorar pelo amor de ninguém
Essa não é minha religação
O amor já nasceu em mim antes mesmo d'Eu perceber
Não quero migalhas de nada que eu já tenha em mim
Mas respeito os miseráveis
Que atrás de tanto luxo, piração e fantasia
Escondem sua verdadeira dor
Mazela intermitente
De quem muito se camufla para ser amado
Ferida inflamada
De quem rebaixa os outros pra se sentir capacitado
Pus infectado
De quem odeia a luz e a alegria do seu ser amado
E é por ir tão fundo nessa percepção
Que nunca me falta a bendita compaixão
Mesmo que a esperança da transformação não me acalente
Todo doente merece uma mãe que o amamente
E no silêncio dessa troca conceber a nutrição
Ao acompanhar a dor que sempre caminhou tão só
E segurar a mão em tom de confirmação
Não há mais solidão quando alguém percebe tão doída inadequação
Georgia, 2016

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