Saturday, November 26, 2016

O retorno da mulher-da-caverna


Eu quero rezar por tantas coisas
Minhas pisadas caminham em tom de oração
Coisas complicadas que só a fé pode ajeitar
Piso nas folhas secas aliviada
Despoetizando algumas delas
Porque não lido bem com o excesso de revelações
Nem com olhos de gavião sobrevoando meu jardim
Sei que o excesso de mistério me faz viver em eterna economia
Vivo com tão pouco, eu sei
Mas deixar de compartilhar o dom
É muito pior do que viver apenas em meditação
O excesso de inaniçao agora já me bambeia
Deixar todo o espaço pra expressão do outro
Não me satisfaz mais no coração
Escondida com as corujas na mata
Encontrei refúgio seguro diante da destruição
Por mais que minha adaga corte selvagemente o que é desqualificado
Sua navalha de tão velha já está cansada
Talvez seja preciso furar o tempo
Abandonando a tão útil adaga mortificante
Livrando meu peito de uma implosão que me aterroriza dia após dia
Sei que não lido bem com holofotes
Escondida na caverna sempre achei que era lá meu melhor lugar
Mas algo que é além de mim me tira dessa condição
E acredita por algum motivo que na claridade cumprirei melhor minha missão
Georgia, 2016

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